Ludismo
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O ludismo foi um movimento que ia contra a mecanização do trabalho proporcionado pelo advento da Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo ludita (do inglês luddite)
identifica toda pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a
novas tecnologias, geralmente vinculadas ao movimento operário anarcoprimitivista.
As reclamações contra as máquinas e a sua substituição em relação à mão-de-obra humana, já eram normais. Mas foi em 1811, na Inglaterra, que o movimento operário estourou, ganhando uma dimensão significativa.
O nome deriva de Ned Ludd,
personagem criada a fim de disseminar o ideal do movimento operário
entre os trabalhadores. Os luditas chamaram muita atenção pelos seus
atos. Invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo os luditas,
por serem mais eficientes que os homens, tiravam seus trabalhos,
requerendo, contudo, movimentos operários e duras horas de jornada de
trabalho. Os luditas ficaram lembrados como "os quebradores de máquinas".
Para além de histórico, este termo representa também um conceito
político, usado para designar todos aqueles que se opôem ao
desenvolvimento tecnológico ou industrial. Estas pessoas são também
chamadas de "luddites", em inglês, ou "luditas", em português, e o
movimento social é hoje conhecido como o neoludismo. Um exemplo de um
autor que se identifica com esta designação é o Kirkpatrick Sale, que escreveu o livro "Rebels Against the Future" ou Movimento Operário.
Para o historiador Eric J. Hobsbawn. o ludismo "era uma mera
técnica de sindicalismo de operários no período que precedeu a revolução
industrial e as suas primeiras fases operáricas".
Índice
Como aconteceu
O Movimento Ludista teve o seu momento culminante no assalto noturno à manufatura de William Cartwright, no condado de York, em Abril de 1812.
No ano seguinte, na mesma cidade, teve lugar o maior processo contra os
ludistas: dos 64 acusados de terem atentado contra a manufatura de
Cartwright, 13 foram condenados à morte
e 2 a deportação para as colônias. Apesar da dureza das penas, o certo é
que o movimento ludista não amainou, dado que os operários viviam em
péssimas condições.
Repressão e declínio
O Ludismo enquanto prática de destruição de máquinas passou a ser
cada vez mais hostilizado pelo patronato que recorreram aos parlamentos,
visando a criação de leis mais severas para punir os envolvidos em
revoltas. O Reino Unido que já possuía em sua legislação uma lei datada de 1721 que definia o exílio como pena máxima para a destruição de máquinas, em 1812 como resultado da oposição contínua a mecanização adotou o Frame-Breaking Act definindo a pena de morte para casos de destruição de máquinas.
A perseguição aos ludistas tornou-se implacável, com centenas de
pessoas sendo presas e torturadas, dezenas de executados, industrial e a
criação das primeiras trade unions (sindicatos)
tornaram-se outros limitantes para o alcance e as possibilidades das
revoltas ludistas, fazendo com que o ludismo entrasse em declínio em
meados do século XIX.
Repercussão no mundo
O ludismo não foi um fenômeno exclusivamente inglês, tendo-se registrado movimentos semelhantes na Bélgica, na Renânia, na Suíça e na Silésia.
Terminologia
Pode-se encontrar os termos com as seguintes variações:
- Ludistas, luditas, luddistas (grafado assim com dois "d" na 5ª edição do VOLP)
Ver também
Ligações externas
Charges e documentos da época
Bibliografia
Ary Hercolendes da Cunha, em seu livro "As Diferentes Organizações na História Européia".
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As condições da classe operária à época da Revolução Industrial
A Inglaterra, de fins do século
XVIII a meados do século XIX, viveu um período conturbado. Foi o período
do crescimento das cidades e da população urbana, construção de
inúmeras ferrovias, aparecimento de fábricas e das classes sociais da
época capitalista: a burguesia, detentora dos meios de produção, e o
proletariado, cuja força de trabalho era explorada. Eram os anos da
Revolução Industrial.
A base da mentalidade dos burgueses de tal época era a exploração máxima da classe trabalhadora – o proletariado – de maneira que pudessem garantir o lucro e manter a massa operária dependente. E esta, na maioria, era oriunda dos cercamentos dos campos realizados na Inglaterra e que forçaram a população rural a trabalhar em meios alternativos no próprio campo ou a migrar para as cidades em busca de empregos – principalmente nas minas de carvão ou nas primeiras fábricas, sobretudo as têxteis, de alimentos, bebidas, cerâmica e outros demais produtos que visavam o nascente mercado consumidor urbano.
Os trabalhadores, submetidos a esta nova ordem, muito sofreram em busca de melhorias de vida que nunca chegavam, devido ao salário extremamente baixo. Acabavam, assim, realizando seus serviços pela própria subsistência, sob péssimas condições de trabalho, em jornadas extremamente longas – às vezes de 16 horas diárias – trabalhando até o limite das forças e, não raro, tidos por negligentes e insubordinados pelos seus empregadores, ainda que tal se desse pela exaustão física. Ademais, tiveram que aprender a trabalhar de maneira regular e ininterrupta, de forma que o trabalho rendesse. Além disso, utilizavam meios de produção que não lhes pertenciam e geravam excedentes que, da mesma forma, nunca iriam lhes pertencer, com a única finalidade de produzir o lucro para os burgueses. Esses patrões os utilizariam para continuar a financiar a industrialização, ou seja, enriquecendo frente ao contínuo empobrecimento dos proletários, o que levava os segundos à insatisfação, muitas vezes ocasionando conflitos. Vemos assim que o proletário era alienado do seu trabalho, pois além de não saber qual era o fim da sua produção, não podia usufruir o produto que era destinado a outros.
Importante ressaltar a preferência de certos burgueses pela utilização em larga escala da mão-de-obra considerada mais “dócil” e – claro – mais barata, como as mulheres (principalmente para a tecelagem), crianças e rapazes abaixo dos 18 anos de idade, o que levava ao desemprego dos homens adultos.
Dessa forma, a miséria e a fome não tardaram a aparecer, assim como doenças como a cólera e o tifo nas humildes regiões habitacionais, devido às péssimas condições de higiene, escassez do fornecimento de água e pelo fato de não terem como se protegerem do frio. Tal quadro levou à morte inúmeros trabalhadores pobres.
A triste realidade da classe trabalhadora não se restringiu à população urbana. Da mesma forma, os camponeses, desprovidos de terra ou assentados em terrenos inférteis, também sofriam com a fome.
Apesar disso, a classe dominante manteve-se insensível a tal realidade, preferindo ignorar os problemas sociais, pois não se sentia diretamente atingida por eles. Era mais cômodo e fácil fingir que nada via e tratar seus empregados como se não fossem seres humanos.
A cidade se expandia e as habitações populares passaram a crescer ao redor delas causando um ambiente pouco atrativo e um empobrecimento das cidades fabris. F. Engels, em sua obra “A condição da classe trabalhadora na Inglaterra” [1] diz: “Um dia andei por Manchester com um destes cavalheiros da classe média. Falei-lhes das desgraçadas favelas insalubres e chamei-lhe a atenção para a repulsiva condição daquela parte da cidade em que moravam os trabalhadores fabris. Declarei nunca ter visto uma cidade tão mal construída em minha vida. Ele ouviu-me pacientemente e na esquina da rua onde nos separamos comentou: ‘E ainda assim, ganham-se fortunas aqui. Bom dia, senhor!’”.
Uma parte do operariado, acreditando na mensagem ideológica da burguesia de que quanto mais se trabalhasse, mais ganharia, não desistia e labutava dia após dia. Porém, muitos outros, desiludidos e desmoralizados pela extrema exploração e o constante empobrecimento, caíam no alcoolismo, demência, suicídio e as mulheres, na prostituição ou – em muitos outros casos –, buscavam refugiar-se na promiscuidade.
No entanto, parte desse contingente de miseráveis via a saída na rebelião, na revolta, revolução. Fizeram greves, revoltas armadas ou não, rebeliões e – muito importante – formaram os sindicatos - as trade unions, visando a sua segurança, melhoria das condições de trabalho e o fortalecimento da luta operária. Indispensável ressaltar que, quando tomam consciência do seu papel na sociedade, reconhecessem-se como agentes sociais e transformadores, ou seja, não seria mais ou “pobre” enfrentando o “rico”, e sim a classe operária explorada e consciente enfrentando o seu explorador, responsável pela sua miséria e desgraça, o burguês capitalista.
CRONOLOGIA:
A canção dos tecelões de Lyon (França), citada por Eric Hobsbawn em sua obra A Era das Revoluções:
“Pour gouverner il faut avoir
Manteaux ou ruban em sautoir (bis)
Nous em tissons pour vous, grands de la terre,
Et nous, pauvres canuts, sans drap on nous enterre.
C’est nous les canuts
Nous sommes tout nus. (bis)
Mais notre règne arrivera
Quand votre règne finira.
Alors nous tisserons lê linceul du vieux monde
Car on entend dèjá la revolte qui gronde.
C’est nous les canuts
Nous n’irons plus nus.”
“Para governar é preciso ter
Mantos ou condecorações em brasões
Nósos tecemos para vós, grandes da terra,
E nós, pobres operários, sem roupa, somos enterrarrados.
Somos nós os canuts ( operários)
Nós estamos nus.
Porém, quando chegar nosso reino
Quando vosso reino terminar
Então nós teceremos a mortalha do velho mundo
Porque já se percebe a revolta que troa
Somos nós os canuts ( operários)
Não estaremos mais nus.”
Reflexão de A. de Toqueville, extraída da obra A Era das Revoluções de Eric J. Hobsbawn:
“Desta vala imunda a maior corrente da indústria humana flui para fertilizar o mundo todo. Deste esgoto imundo jorra o ouro puro. Aqui a humanidade atinge o seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a civilização faz milagres e o homem civilizado torna-se quase um selvagem.” – A. de Toqueville a respeito de Manchester.(TOQUEVILLE, A. de, Journeys to England and Ireland, ed. Mayer, 1958, p. 107-8.)
Entrevista realizada com o pai de duas meninas menores de idade à época:
“1. Pergunta: A que horas vão as menores à fábrica?
Resposta: Durante seis semanas foram às três horas da manhã e voltaram às dez horas da noite.
2. Pergunta: Quais os intervalos concedidos durante as dezenove horas, para descansar ou comer?
Resposta: Quinze minutos para o desjejum, meia hora para o almoço e quinze minutos para beber.
3. Pergunta: Tinha muita dificuldade para despertar suas filhas?
Resposta: Sim. A princípio, tínhamos que sacudi-las para despertá-las e se levantarem, bem como vestirem-se antes ir ao trabalho.
4. Pergunta: Quanto tempo dormiam?
Resposta: Nunca se deitavam antes das onze horas, depois de lhes dar algo que comer, e então, minha mulher passava toda a noite em vigília ante o temor de não despertá-las na hora certa.
5. Pergunta: A que horas eram despertadas?
Resposta: Geralmente, minha mulher e eu nos levantávamos às duas horas da manhã para vesti-las.
6. Pergunta: Então, somente tinham quatro horas de repouso?
Resposta: Escassamente quatro.
7. Pergunta: Quanto tempo durou essa situação?
Resposta: Umas seis semanas.
8. Pergunta: Trabalhavam desde as seis horas da manhã até às oito e meia da noite?
Resposta: Sim, é isso.
9. Pergunta: As menores estavam cansadas com esse regime?
Reposta: Sim, muito. Mais de uma vez ficaram adormecidas com a boca aberta. Era preciso sacudi-las para que comessem.
10. Pergunta: Suas filhas sofreram acidentes?
Resposta: Sim, a maior, a primeira vez que foi trabalhar, prendeu o dedo em uma engrenagem e esteve cinco semanas no hospital de Leeds.
11. Pergunta: Recebeu o salário durante esse tempo?
Resposta: Não, desde o momento do acidente, cessou o salário.
12. Pergunta: Suas filhas foram remuneradas?
Resposta: Sim, ambas.
13. Pergunta: Qual era o salário em semana normal?
Resposta: Três shillings por semana, cada uma.
14. Pergunta: E quando faziam horas suplementares?
Resposta: Três shillings e sete pences e meio.”. (NASCIMENTO, Amauri Mascaro, “A indignação do trabalho subordinado”, IN: Curso de Direito do Trabalho, Saraiva, São Paulo,1992, pág. 11-12.)
SUGESTÕES DE FILMES:
A base da mentalidade dos burgueses de tal época era a exploração máxima da classe trabalhadora – o proletariado – de maneira que pudessem garantir o lucro e manter a massa operária dependente. E esta, na maioria, era oriunda dos cercamentos dos campos realizados na Inglaterra e que forçaram a população rural a trabalhar em meios alternativos no próprio campo ou a migrar para as cidades em busca de empregos – principalmente nas minas de carvão ou nas primeiras fábricas, sobretudo as têxteis, de alimentos, bebidas, cerâmica e outros demais produtos que visavam o nascente mercado consumidor urbano.
Os trabalhadores, submetidos a esta nova ordem, muito sofreram em busca de melhorias de vida que nunca chegavam, devido ao salário extremamente baixo. Acabavam, assim, realizando seus serviços pela própria subsistência, sob péssimas condições de trabalho, em jornadas extremamente longas – às vezes de 16 horas diárias – trabalhando até o limite das forças e, não raro, tidos por negligentes e insubordinados pelos seus empregadores, ainda que tal se desse pela exaustão física. Ademais, tiveram que aprender a trabalhar de maneira regular e ininterrupta, de forma que o trabalho rendesse. Além disso, utilizavam meios de produção que não lhes pertenciam e geravam excedentes que, da mesma forma, nunca iriam lhes pertencer, com a única finalidade de produzir o lucro para os burgueses. Esses patrões os utilizariam para continuar a financiar a industrialização, ou seja, enriquecendo frente ao contínuo empobrecimento dos proletários, o que levava os segundos à insatisfação, muitas vezes ocasionando conflitos. Vemos assim que o proletário era alienado do seu trabalho, pois além de não saber qual era o fim da sua produção, não podia usufruir o produto que era destinado a outros.
Importante ressaltar a preferência de certos burgueses pela utilização em larga escala da mão-de-obra considerada mais “dócil” e – claro – mais barata, como as mulheres (principalmente para a tecelagem), crianças e rapazes abaixo dos 18 anos de idade, o que levava ao desemprego dos homens adultos.
Dessa forma, a miséria e a fome não tardaram a aparecer, assim como doenças como a cólera e o tifo nas humildes regiões habitacionais, devido às péssimas condições de higiene, escassez do fornecimento de água e pelo fato de não terem como se protegerem do frio. Tal quadro levou à morte inúmeros trabalhadores pobres.
A triste realidade da classe trabalhadora não se restringiu à população urbana. Da mesma forma, os camponeses, desprovidos de terra ou assentados em terrenos inférteis, também sofriam com a fome.
Apesar disso, a classe dominante manteve-se insensível a tal realidade, preferindo ignorar os problemas sociais, pois não se sentia diretamente atingida por eles. Era mais cômodo e fácil fingir que nada via e tratar seus empregados como se não fossem seres humanos.
A cidade se expandia e as habitações populares passaram a crescer ao redor delas causando um ambiente pouco atrativo e um empobrecimento das cidades fabris. F. Engels, em sua obra “A condição da classe trabalhadora na Inglaterra” [1] diz: “Um dia andei por Manchester com um destes cavalheiros da classe média. Falei-lhes das desgraçadas favelas insalubres e chamei-lhe a atenção para a repulsiva condição daquela parte da cidade em que moravam os trabalhadores fabris. Declarei nunca ter visto uma cidade tão mal construída em minha vida. Ele ouviu-me pacientemente e na esquina da rua onde nos separamos comentou: ‘E ainda assim, ganham-se fortunas aqui. Bom dia, senhor!’”.
Uma parte do operariado, acreditando na mensagem ideológica da burguesia de que quanto mais se trabalhasse, mais ganharia, não desistia e labutava dia após dia. Porém, muitos outros, desiludidos e desmoralizados pela extrema exploração e o constante empobrecimento, caíam no alcoolismo, demência, suicídio e as mulheres, na prostituição ou – em muitos outros casos –, buscavam refugiar-se na promiscuidade.
No entanto, parte desse contingente de miseráveis via a saída na rebelião, na revolta, revolução. Fizeram greves, revoltas armadas ou não, rebeliões e – muito importante – formaram os sindicatos - as trade unions, visando a sua segurança, melhoria das condições de trabalho e o fortalecimento da luta operária. Indispensável ressaltar que, quando tomam consciência do seu papel na sociedade, reconhecessem-se como agentes sociais e transformadores, ou seja, não seria mais ou “pobre” enfrentando o “rico”, e sim a classe operária explorada e consciente enfrentando o seu explorador, responsável pela sua miséria e desgraça, o burguês capitalista.
CRONOLOGIA:
- 1780: Início do processo de industrialização na Grã-Bretanha.
- 1789: Inicia-se a Revolução Francesa
- Entre 1789 e 1848: Europa e América inundadas por especialistas, máquinas a vapor e maquinarias para algodão e investimentos britânicos,
- Década de 1830: As artes e literatura passam a abordar a questão da Revolução Industrial e a ascensão da sociedade capitalista.
- A partir da década de 1840: A classe operária, com acesso às obras socialistas como, por exemplo, O manifesto comunista, passa a se rebelar mais intensamente.
- 1848: Revoluções de cunho socialista mudam o conceito de revolução de liberalismo para socialismo.
A canção dos tecelões de Lyon (França), citada por Eric Hobsbawn em sua obra A Era das Revoluções:
“Pour gouverner il faut avoir
Manteaux ou ruban em sautoir (bis)
Nous em tissons pour vous, grands de la terre,
Et nous, pauvres canuts, sans drap on nous enterre.
C’est nous les canuts
Nous sommes tout nus. (bis)
Mais notre règne arrivera
Quand votre règne finira.
Alors nous tisserons lê linceul du vieux monde
Car on entend dèjá la revolte qui gronde.
C’est nous les canuts
Nous n’irons plus nus.”
“Para governar é preciso ter
Mantos ou condecorações em brasões
Nósos tecemos para vós, grandes da terra,
E nós, pobres operários, sem roupa, somos enterrarrados.
Somos nós os canuts ( operários)
Nós estamos nus.
Porém, quando chegar nosso reino
Quando vosso reino terminar
Então nós teceremos a mortalha do velho mundo
Porque já se percebe a revolta que troa
Somos nós os canuts ( operários)
Não estaremos mais nus.”
Reflexão de A. de Toqueville, extraída da obra A Era das Revoluções de Eric J. Hobsbawn:
“Desta vala imunda a maior corrente da indústria humana flui para fertilizar o mundo todo. Deste esgoto imundo jorra o ouro puro. Aqui a humanidade atinge o seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a civilização faz milagres e o homem civilizado torna-se quase um selvagem.” – A. de Toqueville a respeito de Manchester.(TOQUEVILLE, A. de, Journeys to England and Ireland, ed. Mayer, 1958, p. 107-8.)
Entrevista realizada com o pai de duas meninas menores de idade à época:
“1. Pergunta: A que horas vão as menores à fábrica?
Resposta: Durante seis semanas foram às três horas da manhã e voltaram às dez horas da noite.
2. Pergunta: Quais os intervalos concedidos durante as dezenove horas, para descansar ou comer?
Resposta: Quinze minutos para o desjejum, meia hora para o almoço e quinze minutos para beber.
3. Pergunta: Tinha muita dificuldade para despertar suas filhas?
Resposta: Sim. A princípio, tínhamos que sacudi-las para despertá-las e se levantarem, bem como vestirem-se antes ir ao trabalho.
4. Pergunta: Quanto tempo dormiam?
Resposta: Nunca se deitavam antes das onze horas, depois de lhes dar algo que comer, e então, minha mulher passava toda a noite em vigília ante o temor de não despertá-las na hora certa.
5. Pergunta: A que horas eram despertadas?
Resposta: Geralmente, minha mulher e eu nos levantávamos às duas horas da manhã para vesti-las.
6. Pergunta: Então, somente tinham quatro horas de repouso?
Resposta: Escassamente quatro.
7. Pergunta: Quanto tempo durou essa situação?
Resposta: Umas seis semanas.
8. Pergunta: Trabalhavam desde as seis horas da manhã até às oito e meia da noite?
Resposta: Sim, é isso.
9. Pergunta: As menores estavam cansadas com esse regime?
Reposta: Sim, muito. Mais de uma vez ficaram adormecidas com a boca aberta. Era preciso sacudi-las para que comessem.
10. Pergunta: Suas filhas sofreram acidentes?
Resposta: Sim, a maior, a primeira vez que foi trabalhar, prendeu o dedo em uma engrenagem e esteve cinco semanas no hospital de Leeds.
11. Pergunta: Recebeu o salário durante esse tempo?
Resposta: Não, desde o momento do acidente, cessou o salário.
12. Pergunta: Suas filhas foram remuneradas?
Resposta: Sim, ambas.
13. Pergunta: Qual era o salário em semana normal?
Resposta: Três shillings por semana, cada uma.
14. Pergunta: E quando faziam horas suplementares?
Resposta: Três shillings e sete pences e meio.”. (NASCIMENTO, Amauri Mascaro, “A indignação do trabalho subordinado”, IN: Curso de Direito do Trabalho, Saraiva, São Paulo,1992, pág. 11-12.)
SUGESTÕES DE FILMES:
- Germinal – retrata a situação dos trabalhadores das minas de carvão na França.
- Tempos Modernos – situando-se num período um pouco mais à frente, Charlie Chaplin retrata a produção em série do trabalho nas fábricas.
- RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins, “As Revoluções Burguesas”, IN: O século XX – O tempo das incertezas – Da formação do capitalismo à Primeira Grande Guerra, FILHO, Daniel Aarão Reis, FERREIRA, Jorge, ZENHA, Celeste (org.), Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2000.
- DOWBOR, Ladislau, “Acumulação do capital”, IN: O que é CAPITAL, Abril Cultural / Brasiliense, São Paulo, 1985, Coleção Primeiros Passos.
- ANTUNES, Ricardo L. C., “O advento do capitalismo e o papel dos sindicatos” e “O nascimento do sindicalismo e das lutas operárias: os trade-unions”, IN: O que é SINDICALISMO, Abril Cultural / Brasiliense, São Paulo, 1985, Coleção Primeiros Passos.
- HOBSBAWN, Eric J., “A Revolução Industrial”, “A carreira aberta ao talento” e “Os trabalhadores pobres”, IN: A Era das Revoluções: 1789 – 1848.”, Paz e Terra, São Paulo, 2005.
- CODO, Wanderley. “O que é alienação”, IN: O que é ALIENAÇÃO, Nova Cultural / Brasiliense, São Paulo, 1986, Coleção Primeiros Passos.
- DICIONÁRIO DO PENSAMENTO MARXISTA, BOTTOMORE, Tom (editor), Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1983
- THOMPSON, E. P. “Plantando a árvore da liberdade”, IN: A formação da classe operária inglesa – A árvore da liberdade, Paz e Terra, São Paulo, 2004, Volume 1.
- GIDDENS, Anthony, “As obras da Juventude Marx”, IN: Capitalismo e Moderna Teoria, Presença, Lisboa, 1994.
- NASCIMENTO, Amauri Mascaro, “A indignação do trabalho subordinado”, IN: Curso de Direito do Trabalho, Saraiva, São Paulo,1992.
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