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quarta-feira, 15 de abril de 2020

2ª tarefa da quarentena para alunos do 2º ano Rogaciano.


Os alunos dos segundos  anos deverão assistir a live acima. Pode ser depois do horário indicado acima. Depois deve ser  produzido um relatório de no minimo 10 linhas sobre o que aprendeu de mais interessante e como isso ajudou a compreender melhor a  reforma religiosa  proposta  por Francisco de Assis e Martinho Lutero.

Romero Venâncio
UMA BREVE NOTA SOBRE A LIVE DE HOJE
Como de costume nessa quarentena, eu e o Pastor Alexandre de Jesus (IPU) estamos fazendo lives nas quartas intituladas "Teologia e afins". Tratamos a teologia como forma de conhecimento e não como mera doutrinação. Hoje, um dos temas, é a figura de Francisco de Assis. Percebi aqui no youtube uma série de palestras e opiniões sobre a vida de Francisco de Assis. Na sua maioria, por parte dos kardecistas (que respeito e admiro em muitos casos) e de alguns religiosos católicos (que comungo da fé). Mas NÃO usarei nenhuma fonte religiosa doutrinária ou meramente apologética. Não tenho a intenção de converter ninguém a nenhuma religião. O Francisco de Assis que sairá da minha fala vem de algumas fontes que indico aqui já para não frustrar ninguém. Usarei uma clássica biografia intitulada: "Vida de um homem: Francisco de Assis" da historiadora Chiara Frugoni e com prefácio de Jacques Le Goff, editora Companhia das Letras. Ainda citarei o livro do historiador medieval André Vauchez "A espiritualidade na Idade Média Ocidental" editora Jorge zahar. E por fim, o belo filme de Roberto Rosselini "Franscisco, arauto de Deus" (1950). A intenção maior é fazer uma reflexão sobre a espiritualidade de Francisco de Assis... E que cada siga seu caminho espiritual como lhe for mais proveitoso. Paz & Bem!
*TEOLOGIA E AFINS. INSTAGRAM
*Pastor Alexandre de Jesus (IPU)
*Romero Venâncio (UFS)
*15/4. Quarta. as 19h.
*Insta: @alexandrejprazeres


PARA ALUNOS DE TODAS AS SÉRIES.


Por G1 Campinas e Região
 



Unicamp lança pPré-olimpíada de História — Foto: Antoninho Perri/Ascom/Unicamp
Unicamp lança pPré-olimpíada de História — Foto: Antoninho Perri/Ascom/Unicamp
Unicamp lança pPré-olimpíada de História — Foto: Antoninho Perri/Ascom/Unicamp
O Departamento de História da Unicamp, em Campinas (SP), abriu inscrições
para a Pré-olimpíada Nacional em História do Brasil, uma iniciativa para
levar conhecimento e entretenimento às pessoas em isolamento social
durante a pandemia de coronavírus.
O período de inscrições segue até 30 de abril e podem participar pessoas de
 qualquer idade, profissão e escolaridade. Diferente da Olimpíada em si, as atividades
serão gratuitas e divididas em quatro etapas online, não haverá eliminações e, ao final dos questionários, o candidato receberá um relatório de desempenho.
As inscrições podem ser feitas no modelo individual, por equipe ou por domicílio -
para pessoas que estão juntas em isolamento.
Mais informações podem ser obtidas no site do projeto. 
Confira abaixo a data de cada etapa

Calendário da Pré-olimpíada

  • Inscrições: até 30 de abril
  • 1ª fase: 27/4 a 1/5
  • 2ª fase: 04/5 a 8/5
  • 3ª fase: 11/5 a 15/5
  • 4ª fase: 18/5 a 22/05

Treino para Olimpíada adiada

12º edição da Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) 
foi adiada para o segundo semestre de 2020. Sem data definida para a realização
da competição, o prazo de inscrição segue prorrogado até 31 de maio.
Segundo a coordenadoria do projeto, a Pré-olimpíada poderá servir como treino
 para as pessoas que irão participar da Olimpíada Nacional, além de estar aberta
a pessoas que gostam do tema.
A iniciativa durante a quarentena traz conteúdos sobre a história do brasil,
mas também integra temas interdisciplinares como geografia, literatura, arqueologia,
urbanismo e atualidades.
12 ª Olimpíada Nacional em História do Brasil
  • Inscrições: até 31 de maio
  • Realização: sem data definifa


2ª tarefa em tempos de quarentena para o 3º ano. "Escolas fechadas, hospitais lotados, eventos cancelados: o Brasil da meningite de 1974."

LEIA O TEXTO ABAIXO E RESPONDA AS SEGUINTES QUESTÕES:


QUAIS AS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS  ENTRE  A RESPOSTA DO GOVERNO COM RELAÇÃO A  EPIDEMIA DA MENINGITE EM 1974 E A PANDEMIA DO CORONAVIRUS EM 2020?

QUAL A RELAÇÃO QUE EXISTE,  DAS DIFICULDADES  DO BRASIL ENFRENTAR AS DUAS SITUAÇÕES COM GOVERNOS FORMADOS POR MILITARES NOS DOIS MOMENTOS, ONTEM E HOJE?



Brasil durante ditadura militar, quando houve a mais grave epidemia de meningite de sua história

No auge da epidemia da doença, o regime militar proibiu médicos de dar entrevistas e jornalistas de publicar reportagens.


Arquivo Nacional

esportivos transferidos, algumas 

Em 1974, durante o período da ditadura militar, o Brasil enfrentava a pior epidemia contra a meningite de sua história. O país já tivera dois surtos da doença - um em 1923 e outro em 1945 -, mas, nenhum deles tão grave ou letal.
Isso porque o Brasil foi vítima não de um, mas de dois subtipos de meningite meningocócica: do tipo C, que teve início em abril de 1971, e do tipo A, em maio de 1974.
Para evitar o contágio, o governo tomou medidas drásticas: decretou a suspensão das aulas e suspendeu eventos esportivos. Os Jogos Pan-Americanos de 1975, que estavam marcados para acontecer em São Paulo, tiveram que ser transferidos para a Cidade do México. Hospitais, como o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, ficaram superlotados.
A que viria a ser a maior epidemia de meningite da história do Brasil teve início em 1971, no distrito de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. Logo, a população mais carente começou a se queixar de sintomas clássicos, como dor de cabeça, febre alta e rigidez na nuca. Nos bairros mais pobres, muitos morreram sem diagnóstico ou tratamento.
Em novembro daquele ano, o que parecia ser um surto restrito a uma determinada localidade logo se alastrou e, aos poucos, ganhou proporções epidêmicas. Dali, não parou mais.
Meningites causadas por bactérias, como a meningocócica, estão entre as formas mais grave da doença

Meningites causadas por bactérias, como a meningocócica, estão entre as formas mais grave da doença

Getty Images
Em setembro de 1974, a epidemia atingiu seu ápice. A proporção era de 200 casos por 100 mil habitantes. Algo semelhante só se via no "Cinturão Africano da Meningite", área que hoje compreende 26 países e se estende do Senegal até a Etiópia.
Das regiões mais carentes, a epidemia migrou para os bairros mais nobres. Até julho daquele ano, um único hospital em São Paulo atendia pacientes com meningite. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas tinha 300 leitos disponíveis, mas chegou a internar 1,2 mil pacientes.
"Não houve quarentena porque o período de incubação da meningite é muito curto", explica a epidemiologista Rita Barradas Barata, doutora em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa. Na época, Rita trabalhava como aluna do internato em medicina no Emílio Ribas. "O atendimento foi além de sua capacidade máxima. Trabalhávamos muitas horas por dia", recorda.
De agosto em diante, outras 26 unidades passaram a fazer parte de uma rede de atendimento a pacientes com sintomas de meningite. "Depois de um ou dois dias recebendo tratamento injetável, os casos mais leves eram transferidos para outras unidades, onde recebiam a medicação oral. Já os pacientes mais graves permaneciam no Emílio Ribas", complementa a médica.

Atentados, passeatas e epidemias eram assuntos vetados na imprensa

Até então, uma pequena parcela da população, quase nula, sabia da existência da epidemia. O governo procurou escondê-la ao máximo, segundo explica quem acompanhou o caso de perto.
Durante ditadura, procurou esconder ao máximo epidemia de meningite

Durante ditadura, procurou esconder ao máximo epidemia de meningite

Arquivo Nacional
"Assim que surgiu, foi tratada como uma questão de segurança nacional, e os meios de comunicação proibidos de falar sobre a doença", afirma a jornalista Catarina Schneider, mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autora da tese A Construção Discursiva dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo sobre a Epidemia de Meningite na Ditadura Militar Brasileira (1971-1975). "Essa tentativa de silenciamento impediu que ações rápidas e adequadas fossem tomadas".
Durante os anos da ditadura, alguns temas foram proibidos de serem divulgados - através de notícias, entrevistas ou comentários - em jornais e revistas, rádios e TVs. A epidemia de meningite que castigou o Brasil na primeira metade da década de 1970 foi um deles.
Sob o pretexto de não causar pânico na população, a censura proibiu toda e qualquer reportagem que julgasse "alarmista" ou "tendenciosa", sobre a moléstia.
Em 1971, quando foram registrados os primeiros casos, o epidemiologista José Cássio de Moraes, doutor em Saúde Pública pela USP e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, integrava uma comissão de médicos de diferentes áreas, como epidemiologistas, infectologistas e sanitaristas. Juntos, detectaram um surto da doença e procuraram alertar as autoridades. Não conseguiram. Em tempos de 'milagre econômico', o governo se recusou a admitir a existência de uma epidemia. "Os militares proibiram a divulgação de dados. Pensavam que conseguiriam deter a epidemia por decreto. Se eu não divulgo, é como se não existisse. Não sabiam que o vírus era analfabeto e não sabia ler Diário Oficial", ironiza o médico.
Dali por diante, médicos de instituições públicas foram proibidos de conceder entrevistas à imprensa. O jeito era dar declarações em "off" para jornalistas de confiança, como Demócrito Moura, do Jornal da Tarde. Mesmo assim, as poucas matérias publicadas, alertando a população dos riscos da meningite, eram desmentidas pelas autoridades.
"Ao governo não interessava a divulgação de notícias negativas. Negar a existência da epidemia foi um erro porque facilitou sua propagação e atrasou a adoção de medidas necessárias ao seu combate. Numa situação dessas, quanto mais rapidamente essas medidas forem adotadas, menores serão as perdas de vidas e os danos à economia", afirma o historiador Carlos Fidelis Ponte, mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Em 1975, o Brasil deu início à Campanha Nacional de Vacinação Contra a Meningite Meningocócica

Em 1975, o Brasil deu início à Campanha Nacional de Vacinação Contra a Meningite Meningocócica

Fundação Oswaldo Cruz

Medo

Em 1974, quando a verdade veio à tona, pelo menos sete Estados totalizavam 67 mil casos - 40 mil deles só em São Paulo. A população, quando soube da epidemia, entrou em pânico. Com medo da propagação da doença, as pessoas evitavam passar na frente do Emílio Ribas. De dentro de carros e ônibus, fechavam suas janelas. Na falta de remédios e de vacinas, recorriam a panaceias milagrosas, como a cânfora.
"Naquela época, não havia rede social, mas já existiam 'fake news'. A boataria atrapalhou bastante", recorda José Cássio.
O governo suspendeu as aulas e mandou os estudantes de volta para casa. Quando era registrado algum caso nas dependências das escolas, as autoridades sanitárias passavam formol nas mesas e carteiras. Em algumas cidades, as escolas públicas foram transformadas em hospitais de campanha para atender os doentes.
Nos hospitais, a epidemia sobrecarregou especialistas em doenças infecciosas. Médicos de outras áreas, para evitar a contaminação, usavam capacetes, óculos e botas. Outros, ao contrário, atendiam pacientes sem qualquer tipo de proteção. Um terceiro grupo preferiu mudar para o interior, com suas famílias.
Uma das primeiras medidas foi prescrever sulfa. Na esperança de deter o avanço da epidemia, a população passou a tomar o antibiótico por conta própria. "O estoque acabou rapidamente e a bactéria ficou resistente", recorda José Cássio.
Todos os dias, a comissão médica da qual o médico fazia parte procurava atualizar os números e divulgá-los no quadro de avisos do Palácio da Saúde, onde funcionava a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Os setoristas da área até tinham acesso às informações, mas não podiam divulgá-las.
Os números de casos e de óbitos são contraditórios. O estudo A Doença Meningocócica em São Paulo no Século XX: Características Epidemiológicas, de autoria de José Cássio de Moraes e Rita Barradas Barata, calcula que, no período epidêmico, que durou de 1971 a 1976, foram registrados 19,9 mil casos da doença e 1,6 mil óbitos. Já a edição de 30 de dezembro de 1974 do jornal O Globo divulgou que, só naquele ano, a epidemia deixou um saldo de 111 mortos no Rio Grande do Sul, 304 no Rio de Janeiro e 2,5 mil em São Paulo.

Ministério censurado

Em março de 1974, o general Ernesto Geisel assumiu a Presidência no lugar do general Médici. Para ministro da Saúde, ele nomeou o médico sanitarista Paulo de Almeida Machado.
Em março de 1974, o general Ernesto Geisel assumiu a Presidência no lugar do general Médici; textos da imprensa eram censurados

Em março de 1974, o general Ernesto Geisel assumiu a Presidência no lugar do general Médici; textos da imprensa eram censurados

Presidencia da Republica
Naquele ano, a jornalista Eliane Cantanhêde, então na revista Veja, conseguiu uma exclusiva com o ministro, em Brasília. Pela primeira vez, uma autoridade admitia publicamente que o Brasil vivia uma epidemia. Mais que isso. Ele alertou sobre os riscos da meningite e ensinou medidas de higiene à população.
De volta à redação, Cantanhêde começou a bater a matéria e a enviá-la, via telex, para a sede da Veja, em São Paulo. Dali a pouco, ficou sabendo que a entrevista tinha sido censurada. Motivo? "Não havia vacina para todo mundo", explica Eliane. "As pessoas não sabiam o que era meningite. Muitas delas morriam e, por falta de informação, não sabiam do quê".
No dia 26 de julho de 1974, o jornalista Clóvis Rossi também teve um de seus textos censurados. No espaço reservado ao artigo A Epidemia do Silêncio, a direção da Folha de S. Paulo se viu obrigada a publicar um trecho do poema Os Lusíadas, de Luís de Camões. "Desde que, há dois anos, começaram a aumentar em ritmo alarmante os casos de meningite em São Paulo, as autoridades cuidaram de ocultar fatos, negar informações e reduzir os números a proporções incompatíveis com a realidade", alertou Rossi no artigo censurado.
Naquele mesmo ano, o governo brasileiro assinou um acordo com o Instituto Pasteur Mérieux e importou em torno de 80 milhões de doses da vacina contra meningite. "O laboratório francês precisou construir uma nova fábrica porque a que existia não comportava uma produção tão grande", relata o historiador Carlos Fidelis. "Foi a partir dessa emergência que se criou, na Fiocruz, a fábrica de fármacos, a Farmanguinhos, e a de vacinas, a Bio-Manguinhos".

Vacinação

Em 1975, o Brasil deu início à Campanha Nacional de Vacinação Contra a Meningite Meningocócica (Camem). Foi quando, para estimular a ida em massa da população aos postos de saúde, o governo passou a divulgar os números da doença.
"A letalidade da meningite é de 10%, mas, no auge da epidemia, caiu para 2%", afirma Rita Barradas Barata. "O diagnóstico era feito de maneira precoce e o tratamento com antibiótico reduzia o risco de morte".
Em apenas quatro dias, foram aplicadas 9 milhões de doses na região metropolitana de São Paulo. Logo, estenderam a campanha para outros municípios e estados. A imunização não era feita com seringa e agulha e, sim, com uma "pistola" injetora de vacina. "Conseguimos uma cobertura vacinal de quase 90% da população", orgulha-se José Cássio.
Além de superlotar hospitais e de fechar escolas, a epidemia de meningite teria causado outros "estragos". Um deles é a transferência dos Jogos Pan-Americanos de 1975, da cidade de São Paulo para a do México. Bem, pelo menos essa é a versão oficial. A extraoficial é contada pelo advogado Alberto Murray Neto. "Em 1975, o número de casos já tinha reduzido e o que se dizia é que a epidemia estava controlada. Em tese, a meningite não seria um impeditivo para os Jogos", revela Alberto.
Seu avô, Sylvio de Magalhães Padilha, era o então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e vice do Comitê Olímpico Internacional (COI). Durante reunião em Brasília, foi avisado pelo ministro da Educação, Ney Braga, que não teria recursos do governo federal para os Jogos. Em suma: o Pan deveria ser cancelado, a três meses de sua realização.
"Meu avô cancelou os Jogos, sem esconder que a questão crucial era o corte de verbas", relata Alberto. Os Jogos Pan-Americanos de 1975 deixaram para a cidade o velódromo, a raia olímpica e o Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP)".

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Os sergipanos presos, torturados, mortos. Atividades para alunos do 3º ano.

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O relatório da Comissão Nacional da Verdade revelou que três sergipanos foram assassinados pela ditadura militar. Muitos outros sofreram por terem lutado contra o regime de exceção e a favor da liberdade de expressão, ou simplesmente por discordarem do governo dos generais, imposto durante 21 anos a partir de abril de 1964. Alguns guardaram para sempre marcas indeléveis como um registro da coragem de se manifestar contra o arbítrio.
O caráter reacionário da nova fase política configurou-se em Aracaju no dia 1º de abril após a prisão do deputado federal Euvaldo Diniz e do delegado regional do trabalho, que ousaram se manifestar contra o golpe. Lideranças do Sindicato dos Ferroviários também foram conduzidas ao quartel do 28º BC. Mas na manhã seguinte todos foram liberados.
Mesma “sorte” não teve o governador João de Seixas Dória, que retornou do Rio de Janeiro na noite daquele “dia da mentira” e na madrugada do dia 2 foi arrancado do Palácio Olímpio Campos e deposto. Passou meses preso, boa parte do tempo em degredo no arquipélago de Fernando de Noronha. Esses foram os primeiros a sentir a mão pesada da nova ordem institucional.
O primeiro sergipano morto pela ditadura foi o sargento do Exército Manoel Alves de Oliveira, 30 anos incompletos, natural de Aquidabã. Pouco antes do golpe militar, ele foi candidato a presidente do Clube de Subtenentes e Sargentos do Exército, atividade política que certamente o condenou às torturas que sofreu no Regimento Andrade Neves – Escola de Cavalaria, localizado na Vila Militar do Rio de Janeiro, e consequente morte no Hospital Central do Exército (HCE), na mesma cidade, no dia 8 de maio de 1964. Pesquisas apontam que seu assassinato está inserido no quadro de repressão instaurado no país com a chamada “Operação Limpeza”, segundo o relatório da CNV.
A viúva Norma Conceição Martorelli de Oliveira, afirmou que Manoel foi detido em casa, por homens em trajes civis que o conduziram em um automóvel Kombi sem identificação oficial. Ele respondia a Inquérito Policial Militar e foi conduzido para um “interrogatório especializado”. Ao buscar informações junto ao I Exército a respeito do paradeiro, recebeu informações desencontradas. Apenas dois dias depois obteve a confirmação de que o marido estava no HCE. Após um mês de buscas, Norma conseguiu autorização para visitar o marido. Ao vê-lo, percebeu “que o seu corpo estava coberto de marcas, que mais tarde soube serem de ferro quente”.
Também assassinado, o sergipano de Laranjeiras Lucindo Costa, servidor público em Santa Catarina, onde militava no PCB, desapareceu após fazer uma viagem a Curitiba em julho de 1967. Ele tinha 48 anos, era casado e pai de seis filhos. Já havia sido preso duas vezes como subversivo. Posteriormente, a esposa Elisabeth Baader recebeu a informação de que ele morreu atropelado e foi enterrado como indigente. Era mentira, claro. Foi provavelmente detido, torturado e morto.
Preso anteriormente pelos órgãos da repressão, Lucindo mantinha contato com opositores da ditadura militar, como o major Cerveira, mais tarde morto pela repressão, e o professor Vieira Neto, militante do Partido Comunista Brasileiro. À época de seu desaparecimento, Lucindo morava com a família em Mafra (SC) e trabalhava no Serviço de Classificação de Rio Negro (PR), do Ministério da Agricultura.
Também considerada assassinada pelo Estado brasileiro foi a aracajuana Therezinha Viana de Assis, economista que concluiu o curso na Universidade Federal de Sergipe em 1965. Mudou-se para Belo Horizonte, onde foi funcionária da Caixa Econômica Federal. Militante da Ação Popular (AP), Therezinha foi presa e torturada por agentes da repressão entre os anos 1968 a 1972.
No início de 1973, ela exilou-se no Chile, onde fez um curso de pós-graduação na Universidade de Santiago. Passou a militar no Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR). Após o golpe militar que depôs Salvador Allende, Therezinha buscou asilo político na Holanda. Morou inicialmente em Rotterdam e depois em Amsterdã. Cursou o doutorado em Economia e trabalhou, até setembro de 1977, na área de planejamento da prefeitura de Amsterdã. Therezinha Viana de Assis morreu em 1978, aos 36 anos de idade, naquela capital dos Países Baixos, como resultado das sequelas da tortura a que foi submetida.




Durante o período em que residiu em Amsterdã, Therezinha manteve correspondência com sua irmã, Selma Viana de Assis Pamplona, por meio de cartas. Em depoimento, Selma contou que, em 1977, Therezinha viajou por vários países da Europa. Em algumas correspondências, contou à irmã que se sentia perseguida, pois mesmo viajando para outros países via as duas ou quatro mesmas pessoas, que, segundo ela, estariam seguindo seus passos.
Nessa época em que Therezinha passou a se sentir perseguida, um de seus amigos exilados lhe recomendou que tivesse cuidado, pois sabia que policiais do Chile e do Brasil estavam perseguindo exilados em diversos países. Em setembro ou outubro de 1977, desconfiando que suas correspondências estavam sendo violadas e que suas ligações eram interceptadas, ela interrompeu a comunicação com a irmã.
Therezinha Viana de Assis foi encontrada agonizante no dia 3 de fevereiro de 1978, sobre a calçada do edifício onde morava em Amsterdã, e levada, ainda com vida, para o Academische Ziekenhuis da Vrije Universiteir, onde foi operada, mas não resistiu. Ela era irmã do político e empresário Antonio Fernandes Viana de Assis, que foi deputado estadual cassado pela ditadura e, posteriormente, entre os anos de 1988 e 1989, foi prefeito de Aracaju. Ele morreu em junho de 2010, aos 75 anos.
Deputados e estudantes
Viana de Assis (PR), Cleto Maia (PRT), Nivaldo Santos (PR) e Baltazar Santos (PSD) foram os deputados cassados um mês e meio após o golpe. Também foi cassado o deputado federal João Machado Rollemberg, da Arena. No recrudescimento da repressão, e já no bipartidarismo, em 1969 também foram cassados os deputados estaduais Gilton Garcia, Rosendo Ribeiro, Aerton Silva, Chico de Miguel, Edson Mendes de Oliveira, Santos Mendonça, Baltazarino Santos e Jaime Araújo.
Estudantes, quase todos militantes e oriundos da UFS, sofreram nessa fase do chamado novo ciclo repressivo iniciado após o AI-5. Principalmente Bosco Rolemberg, Ana Côrtes, Wellington Mangueira e Laura Marques, que penaram nas mãos de sádicos torturadores. João Augusto Gama, Benedito Figueiredo e o poeta Mário Jorge Vieira também foram presos.
Em fevereiro de 1976, na Operação Cajueiro, 25 sergipanos foram presos arbitrariamente no quartel do 28º BC, alguns foram torturados e 18 foram processados. Wellington Mangueira estava outra vez dentre estes, além dos ferroviários Antônio Bitencourt, Carivaldo Lima Santos, Pedro Hilário dos Santos e Virgílio de Oliveira, dos advogados Jackson de Sá Figueiredo, João Santana Sobrinho, Elias Pinho e Carlos Alberto Menezes, do estudante e bancário Antônio José de Góis, do comerciante Faustino Alves de Menezes, do jornaleiro Gervásio Santos, do funcionário público Marcélio Bonfim, do agrônomo Rosalvo Alexandre, do petroleiro Milton Coelho de Carvalho, que ficou cego, e outros.
O deputado estadual Jackson Barreto, ligado ao PCB, sofreu a segunda prisão na Operação Cajueiro, foi logo liberado, mas respondeu a Inquérito Policial Militar.
Em maio de 2009, a Caravana da Anistia do Ministério da Justiça julgou, na sede da OAB em Aracaju, 34 processos de sergipanos que se declararam vítimas do regime militar: 22 processos foram deferidos, as vítimas declaradas anistiadas e o presidente da Comissão de Anistia, em nome do Estado brasileiro, desculpou-se pelo sofrimento causado a cada um desses cidadãos que ousaram lutar pela democracia. Dezoito anistiados tiveram reconhecido o direito de serem indenizados ou de terem corrigidas indenizações anteriormente conquistadas. Um deles foi Antônio José de Góis, o Goizinho, que foi torturado e permaneceu 21 dias encarcerado.
Em quatro processos, os requerentes ou familiares deles pediam apenas que o Estado declarasse reconhecer o sofrimento causado e os anistiasse. Dentre esses, processos do radialista e deputado estadual cassado Santos Mendonça e do poeta Mário Jorge, ambos falecidos. Também foram indenizados Jugurta Barreto (falecido posteriormente), Agamenon de Araújo Souza, José Alexandre Felizola Diniz, Rosalvo Alexandre, José Côrtes Rollemberg Filho, Delmo Naziazeno, Antônio Vieira da Costa, Zelita Correia, Walter Oliveira Ribeiro, João Augusto Gama, Benedito Figueiredo, Wellington Mangueira e Milton Coelho.

1 - Procure no seu livro de História, capitulo sobre o golpe militar de 1964,  a razão pela qual Seixas Dória foi deposto do cargo de governador de Sergipe e preso em Fernando de Noronha.
2 - Sobre os sergipanos mortos pela ditadura escreva um resumo sobre o acontecimento envolvendo cada um. No resumo descreva nome, profisssão, idade, escolaridade, motivos da prisão, como se deu a morte.
Leia o 2º texto abaixo e responda as perguntas abaixo:
Cinquenta anos sem Dom Távora
Por Henrique Maynart
Esta sexta-feira, 3 de abril, completa cinquenta anos que o arcebispo Dom José Vicente Távora partiu para outra. Primeiro arcebispo da Diocese Metropolitana de Aracaju, fundador e primeiro presidente do Movimento de Educação de Base (MEB), parceiro de primeira hora de Dom Helder Câmara, o sacerdote pernambucano figura entre os signatários da Doutrina Social da Igreja pela banda fina do cacique Serigy.
Impulsionador da Rádio Cultura como primeira experiência das "Escolas Radiofônicas", o projeto de alfabetização, educação para Reforma Agrária e Legislação, chegou a ter mais de 12 mil assistidos e centenas de monitores por todos os cantos de Sergipe. Crítico mordaz das Ligas Camponesas de Francisco Julião, o bispo entendia a necessidade de antecipar a organização dos trabalhadores rurais antes dos "radicais" que, hora ou outra, desceriam de Pernambuco para levantar acampamento.
Ainda está para surgir um Sindicato de Trabalhador Rural (STR) em Sergipe que não sustente um quadro de Dom Távora em qualquer de suas paredes. O projeto das Escolas Radiofônicas funcionou até o dia 1 de abril de 1964, mais conhecido como golpe civil-militar que assolou o país por duas décadas de pesadelo. Acossado, Dom Távora só não testemunhou o sol nascer quadrado por intervenção do general Juarez Távora, seu primo.
Enquadrado na base do fuzil, o projeto das Escolas Radiofônicas se converteu em primo desconhecido do propalado Mobral, sob o comando do bispo auxiliar, Dom Luciano Cabral Duarte. Ajudava um ou outro quando possível, levantou uns trocados para a militância do movimento estudantil da UFS para o lendário Congresso de Ibiúna, da União Nacional dos Estudantes, em 1968.
Mas já fazia um tanto que o coração do velho bispo retumbava doente na caixa dos peitos, não aguentaria o batuque de outro infarto, assim foi em 3 de abril de 1970. Seu bispo auxiliar, signatário dos conservadores do golpe civil-militar, dos generais de 1964, dos intolerantes à reforma agrária e direitos sociais, seguiu o projeto de enquadramento dos trabalhos pastorais aos ditames do golpe.
Em tempos de espetacularização da fé, de avanço da bancada fundamentalista, dos prepostos da Teologia da Prosperidade, reivindicar o trabalho de Dom Távora é fundamental para a batalha da memória dos debaixo, daqueles que batalham para dividir corretamente o mesmo pão.
Aracaju, 03 de abril de 2020.
1 - Dom Tavora arcebispo de Aracaju no ano de 1964, foi perseguido pelos mlitares que tomaram o poder e quase foi preso. Qual a razão dessa perseguição? Além da resposta no texto acima, busque a resposta na entrevista abaixo: 
Padre dos pobres e bispo dos operários. A história de Dom José Vicente Távora
   

Patricia Fachin  
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A relação de proximidade com a classe operária fez Dom José Vicente Távora ficar reconhecido como padre dos pobres. Mais tarde, como bispo no Rio de Janeiro, envolvido com a JOC, “ele se autodenominava o bispo dos operários”, conta Isaias Nascimento
“Dom Távora fez opção pela classe operária desde o início de sua vida sacerdotal lá na diocese de Nazaré da Mata, em Pernambuco. Para ele, a JOC era ‘uma sementeira de líderes para o futuro’ dentro do movimento operário”. É assim que Isaias Nascimento, autor do livro Dom Távora, O Bispo dos Operários (São Paulo: Paulinas, 2008), lembra de Dom José Vicente Távora, nordestino que dedicou sua vida à causa dos excluídos. Dom Távora participou da reestruturação da Ação Católica Brasileira, no Rio de Janeiro, e fundou a Juventude Operária Católica – JOC, “cujo objetivo era formar operários católicos missionários atuando entre seus iguais para ‘converter a Jesus Cristo, não apenas este ou aquele colega individualmente, nem mesmo dezenas e dezenas de colegas, mas o próprio operariado’”.
Amigos oriundos do Nordeste brasileiro, Dom Hélder Câmara e Dom Távora “conheciam a sina dos filhos da seca” e viam, nas favelas do Rio de Janeiro, “seus irmãos nordestinos enxotados pela miséria e pela fome”. O clamor dos pobres, enfatiza Isaias Nascimento, fez com que os dois bispos firmassem “uma aliança em defesa dos excluídos nordestinos, os da Capital Federal e os que estavam na terra natal. Eles comprometeram e pagaram, ao longo de suas vidas todo tipo de perseguições, críticas jornalísticas, acusações mentirosas, mas não se desviaram do compromisso social com  o Ecce Homo – Eis o Homem (João 19, 4-5) continuamente crucificado”.

Na entrevista a seguir, concedida, por e-mail para a IHU On-Line, o padre da diocese de Propriá, Sergipe, relata alguns momentos da trajetória de Dom Távora e menciona que o período mais difícil de sua vida foi a ditadura militar. “Dom Távora teve seu telefone grampeado. Recebia com frequência um coronel do exército para pressioná-lo. Teve que enfrentar uma prisão domiciliar. Várias lideranças do Movimento de Educação de Base – MEB e dos sindicatos de orientação católica foram presas em Sergipe e em várias partes do país. Viu também parte do seu clero e religiosas comprometidos serem intimados a depor na Polícia Federal. (...) Sentiu-se só, muitas vezes, sem a visita e o carinho do povo, dos pobres, mas resistiu o quanto pode, até o dia 03 de abril quando seu coração não suportou mais o 3º enfarto”.
Isaias Nascimento é pároco da Paróquia de Brejo Grande, que fica no lado sergipano na foz do Rio Francisco e Coordenador da Cáritas Diocesana de Propriá.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O senhor pode nos contar como era o trabalho desenvolvido por Dom Távora na diocese e a iniciativa de fundar escolas operárias?

Isaias Nascimento - Quando chegou a Aracaju, em março de 1958, encontrou muita coisa encaminhada pelo seu antecessor Dom Fernando Gomes : grupos de Juventude Operária Católica – JOC (que ele mesmo fundou ainda como padre no início dos anos 50), Círculos Operários  assessorados por Mons. João Moreira Lima, grupos de Ação Católica Especializada e a entidade assistencial conhecida como Serviço de Assistência à Mendicância – SAME que acolhia pessoas abandonadas. Além de dar continuidade pastoral ao que já havia, fundou a Rádio Cultura de Sergipe que, juntamente, com a criação do Movimento de Educação de Base  – MEB, com suas escolas radiofônicas, ofereceu a educação do homem do campo e, a partir delas, fundaram e organizaram os primeiros Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e a sua Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Sergipe – FETASE. Dom Távora é reconhecido como o patrono do sindicalismo rural de Sergipe.
Ainda como seminarista na sua diocese de Nazaré da Mata, em Pernambuco, aderiu ao movimento da Ação Católica que estava se formando no Brasil. Ela – Ação Católica - formava liderança das grandes cidades e do interior com os princípios da Doutrina Social da Igreja, principalmente os contidos na encíclica papal Rerum Novarum . Quando padre recém ordenado, no início dos anos 1930, fundou diversas Escolas Operárias na mesma diocese, principalmente em Nazaré da Mata e Goiana, em Pernambuco. Pegou tão bem que ela chamou de Legião Pernambucana do Trabalho, tendo como finalidade formar a classe operária sob a orientação católica. Já havia naquele tempo Círculos Operários em alguns municípios de Pernambuco e em Aracaju. Foi ele quem conseguiu realizar um Congresso Operário no final dos anos 1930 lá em Goiana, recebendo delegações de todo a região Nordeste, no qual esteve presente também o Pe. Leopoldo Brentano . Sua relação com a classe operária o fez reconhecido como padre dos pobres. Depois, como bispo no Rio de Janeiro, já envolvido com a JOC, ele se autodenominava o bispo dos operários.

IHU On-Line - Qual a relação de Dom José Vicente Távora com o período polí¬tico getulista?

Isaias Nascimento - Lembremos que o Rio de Janeiro era a Capital Federal do Brasil, e a Igreja Católica, apesar de não ser a religião oficial do país, tinha muita influência junto aos poderes de uma República que ainda estava engatinhando. O Cardeal Leme , reconhecido como um bom estadista e pastoralista, procurou manter “cada qual no seu lugar”, isto é, procurou fortalecer a Igreja para continuar independente do Estado, e defender os interesses dela e seus princípios junto ao Estado e, para isto, formou uma boa equipe de padres competentes na defesa dos princípios da Doutrina Social da Igreja, relacionados às questões trabalhistas, educação católica e saúde, diante dos poderes públicos. Para tal intento, trouxe do Ceará o Pe. Hélder Câmara , de Pernambuco; Pe. José Vicente Távora e o Pe. Jorge Marcos . Ambos vivenciaram o período getulista. A liderança de Dom Hélder foi marcante neste período. Foram Dom Távora e Dom Hélder que no dia 24 de agosto de 1954 deram a notícia do suicídio de Getúlio Vargas , o então presidente da República, conforme o Padre Ivo Calliari detalhou em suas anotações: “Às 4h:30min do dia 24 de agosto de 1954, Dom Hélder e Dom José Vicente Távora vieram buscar Sua Emcia . Descemos imediatamente... No Palácio São Joaquim, ligamos o rádio: a notícia era que o Dr. Getúlio Vargas renunciara. Seguiu-se logo que pedira apenas licença de 90 dias. Celebrei às 6h:30min e Sua Emcia às 7h:30min na capela do Palácio São Joaquim. Depois do café, quando rezávamos o breviário, num pequeno hall em frente ao meu quarto, próximo ao refeitório, Dom José Vicente Távora chega com a estarrecedora notícia  do suicídio. Dom Jaime pôs as mãos na cabeça e disse: “Meu Deus! Foi um choque tremendo. Ficamos parados!... Só poderíamos rezar e foi o que fizemos: continuamos o breviário!...”

IHU On-Line - Dom Távora enfrentou problemas no governo Carlos Lacerda e no período da ditadura militar. Como ele se posicionava politicamente nesses momentos?

Isaias Nascimento - Dom Távora tomou posições públicas que foram marcantes na história do Brasil: o primeiro foi na tentativa de golpe em agosto de 1961, quando Jânio Quadros  renunciou e os militares impediram a posse de Jango  como presidente. Ele reagiu publicamente e, juntamente com ele, a classe política de Sergipe exigindo o respeito à Constituição. Somente depois de muitas negociações no Congresso Nacional conseguiram permitir sua posse como presidente no regime Parlamentarista, com menos poderes.
Outro momento foi sobre a prisão da cartilha do MEB intitulada Viver é lutar. Ocorrido no início do ano de 1964, quando Carlos Lacerda  mandou prendeu a cartilha do MEB. Dom Távora, não só por ser presidente do MEB, mas também por ser próprio da sua personalidade, não se intimidou diante do governador do Rio que acusava o material de ser comunista e, com ele, setores da mídia nacional fizeram uma humilhação pública (no programa Flávio Cavalcanti  que a rasgou ao vivo). Dom Távora assumiu publicamente a responsabilidade pelo material em uma nota dizendo que “Os bispos... não podiam ser indiferentes nem omissos numa tarefa da mais alta importância, exigida pela própria Caridade Evangélica, qual seja, a de emprestar sua cooperação ao desenvolvimento social e cultural do povo e à elevação do nível geral da sociedade”, visto que o material trazia uma leitura sobre a questão da reforma agrária.

E o momento mais difícil da vida dele, penso eu, foi o da ditadura militar. O que parecia ser um impedimento contra as forças do comunismo internacional, como pensava a maioria dos bispos que foram favoráveis ao golpe, foi um golpe no processo democrático por 26 longos anos da história nacional. A perseguição, as prisões e torturas foram piorando ao longo dos anos de forma ascendente, a ponto de a maioria dos bispos irem se afastando do regime, principalmente, a partir de 1966. Neste momento histórico é marcante o profetismo da Igreja no Brasil tendo como porta voz Dom Hélder Câmara, tanto nacional como internacionalmente. Todos os bispos envolvidos com a pastoral social daquele tempo foram tachados como subversivos e, consequentemente, juntamente com os seus próximos, perseguidos. Dom Távora teve seu telefone grampeado. Recebia com frequência um coronel do exército para pressioná-lo. Teve que enfrentar uma prisão domiciliar. Várias lideranças do MEB e dos sindicatos de orientação católica foram presas em Sergipe e em várias partes do país. Viu também parte do seu clero e religiosas comprometidos serem intimados a depor na Polícia Federal. Testemunhou também o estreitamento de relações comprometedoras entre o seu bispo auxiliar – depois sucessor - Dom Luciano José Cabral Duarte  e os militares a partir de 1967. Sentiu-se só, muitas vezes, sem a visita e o carinho do povo, dos pobres, mas resistiu o quanto pode, até o dia 3 de abril de 1970, quando seu coração não suportou mais o terceiro enfarto.

IHU On-Line - Qual a relação de Dom Távora com o padre Leopoldo Brentano?

Isaias Nascimento - Sei que os dois se encontraram no Rio para preparar o Primeiro Congresso dos Operários de Pernambuco que aconteceu em Goiana, Pernambuco, no dia 30 de dezembro de 1938. Não tenho notícias de qualquer relação anterior. Dizem que foi a partir do sucesso do referido que Congresso, que reuniu milhares de trabalhadores vindos em delegações do Nordeste e do Brasil, que  Pe. Leopoldo Brentano sugeriu o nome do Pe. Távora ao Cardeal Leme para ele atuar na Capital Federal junto aos Círculos Operários. Fato que aconteceu no final de 1939 para o início dos anos 1940.

IHU On-Line - O senhor diz que a amizade entre Dom Hélder e Dom Távora deu origem a uma transformação nas estruturas e estratégias da Ação Católica Brasileira. Em que consiste essa transformação e qual o impacto dela na tarefa de evangelização do país?

Isaias Nascimento - Primeiro, os dois eram nordestinos que conheciam a sina dos filhos da seca e vítimas das cercas. As favelas da então Capital Federal (Rio de Janeiro) mostravam seus irmãos nordestinos enxotados pela miséria e pela fome. O clamor dos pobres subiu até Deus que, por sua vez, comprometeu os dois nordestinos a verem nos seus irmãos o Cristo Crucificado e por Ele neles entregarem suas vidas. O clamor dos pobres os intimou a descer até eles. Foi por eles, portanto, os excluídos, que ambos se chamavam de “Eu”, assumindo juntos um mesmo projeto de vida sacerdotal, tanto como padres, e depois como bispos. Dom Távora e Dom Hélder firmaram uma aliança de nordestinos em defesa dos excluídos nordestinos, os da Capital Federal e os que estavam na terra natal. Eles comprometeram e pagaram, ao longo de suas vidas, todo tipo de perseguições, críticas jornalísticas, acusações mentirosas, mas não se desviaram do compromisso social com  o Ecce Homo – Eis o Homem (João 19, 4-5) continuamente crucificado.
Várias iniciativas aconteceram em todo o Brasil, principalmente no Nordeste, a fim de levar propostas para erradicar a miséria e a fome na região. Desde o encontro dos Bispos do Vale do São Francisco em Aracaju (em 1953), depois em Campina Grande (26-05-1956) e Natal (23 a 27-05-1959).

Aqui eu me somo à resposta de Raimundo Caramuru  que nos oferece mais informações. Veja o que ele descreve: “Ao longo dos anos 1940, três acontecimentos foram de capital relevância para a trajetória de Pe. Hélder e sua contribuição aos rumos da Igreja no Brasil. O primeiro foi sua amizade com o Pe. José Távora, um outro sacerdote nordestino, que Dom Leme havia trazido de Recife no início dos anos 1940, para desenvolver a pastoral operária na arquidiocese do Rio de Janeiro. Como os Círculos Operários do Pe. Leopoldo Brentano já estivessem atendendo os trabalhadores sindicalizados, Pe. Távora dedicou-se ao trabalho com aqueles que hoje seriam categorizados como excluídos, na sua maioria imigrantes recentes provenientes das áreas rurais do país, alojados nas periferias urbanas e nos morros favelizados. Este trabalho iniciado por Pe. Távora levantou o problema das favelas e das migrações, bem como suas conexões com os desafios enfrentados pelas populações rurais. A amizade entre Hélder e Távora teve um outro desdobramento, que deu origem ao segundo acontecimento, que, na realidade, havia constituído o grande sonho do Cardeal Leme nos últimos anos de vida deste insigne prelado: uma transformação nas estruturas e estratégias da Ação Católica Brasileira, adaptando-as às necessidades das tarefas de evangelização do país. Este segundo acontecimento foi tornado possível pelo contato de Hélder e Távora com o fundador da Juventude Operária Católica – JOC, o padre belga, altamente prestigiado pelo papa Pio XI , Joseph Cardijn . À primeira vista o segredo estava na pedagogia do ver-julgar-agir. Pouco a pouco, porém, tomou-se consciência de que muito mais do que uma opção pedagógica, a linha adotada por Cardijn implicava em uma opção teológico-pastoral, que aproximava o esforço de evangelização das suas fontes bíblicas e patrísticas e retomava toda a riqueza contida na teologia do Desígnio divino e na história da salvação” .

IHU On-Line - Por que, e em que contexto, Cardeal Leme chamou Dom Távora para trabalhar no Rio de Janeiro?

Isaias Nascimento - Creio que um dos fatores é que o Brasil estava se industrializando e a classe operária também se organizava em todo o país, tanto nas capitais como no interior. A ideologia comunista tomava corpo em várias categorias de trabalhadores das áreas urbana e rural, e no meio estudantil nas faculdades. A ida do Pe. Távora ao Rio de Janeiro foi para reforçar a equipe do Cardeal, da qual já fazia parte o Pe. Hélder Câmara, na execução de um “contra ataque” que tanto marcou a história da Igreja no Brasil, que foi o fortalecimento da Ação Católica Brasileira entre a elite intelectual e, mais tarde, a presença no meio dos jovens através das Juventude Agrária Católica - JAC, Juventude Estudantil Católica - JEC, Juventude Independente Católica - JIC, Juventude Operária Católica - JOC e Juventude Universitária Católica - JUC por onde a Igreja procurava evangelizar a sociedade à luz da Doutrina Social da Igreja.

IHU On-Line - Como o senhor descreve a atuação de Dom Távora na Juventude Operária Católica - JOC?

Isaias Nascimento - Ainda quando padre no Rio de Janeiro, ele participou da reestruturação da Ação Católica Brasileira a partir da visão do Pe. Cardijn, da Bélgica e fundador da JOC. A partir daí ele fundou a JOC do Rio de Janeiro cujo objetivo era formar operários católicos missionários atuando entre seus iguais para “converter a Jesus Cristo, não apenas este ou aquele colega individualmente, nem mesmo dezenas e dezenas de colegas, mas o próprio operariado”. Nas reuniões se usava o conhecido método de Cardijn: ver-julgar-agir, (que até hoje é usado pela Igreja na construção de seus documentos, a exemplo de Puebla e Aparecida), que ajuda a ler a realidade, analisar os dados coletados, e a construir novas ações/reações pastorais.
Dom Távora fez opção pela classe operária desde o início de sua vida sacerdotal lá na diocese de Nazaré da Mata, em Pernambuco. Para ele, a JOC era “uma sementeira de líderes para o futuro” dentro do movimento operário. Ele mesmo disse que a “classe operária precisa dirigir-se com autonomia, com independência e grandeza, mas isto não pode ocorrer se ela não tem militantes de seu próprio meio, bem formados, capazes de tomar posição conscientemente, em todos os problemas que interessam ao bem do povo especialmente, quando se tratar da libertação econômica, social, moral e espiritual do mundo do trabalho. A JOC luta por um tempo diferente deste que está aí, cheio de clamorosas injustiças, de privilégios inaceitáveis e desacertos que revoltam, a cada instante. Onde houver um problema operário, particularmente dizendo respeito ao presente e ao futuro da juventude trabalhadora, aí estará presente sempre a JOC, atenta, ativa, cônscia de sua missão, isto é, a missão de fazer um programa de redenção da classe operária” (entrevista cedida ao jornal A Cruzada, 07-12-57).

Podemos vislumbrar aqui o início de uma revolução na prática pastoral da Igreja, começado lá na Europa, pois se inicia a semeadura de uma Igreja comprometida com os pobres. Vários padres que foram assistentes da Ação Católica e/ou da JOC foram nomeados bispos – Dom Hélder, Dom Távora e Dom Antonio Fragoso  - que fizeram a diferença quando da realização do Concílio Vaticano II, clamando por uma Igreja a serviço dos pobres. Eles formavam o grupo conhecido “Igreja dos Pobres”. Podemos vislumbrar aqui as sementes da Teologia da Libertação e do compromisso da Igreja com os pobres do nosso continente.

IHU On-Line - Em que consistiu o 1º Plano de Pastoral, proposto por Dom Távora. O que isso significou para a Igreja a partir de 1966?

Isaias Nascimento - Consistia na reorganização da Pastoral da Igreja local à luz do Concílio Vaticano II e ao Plano Nacional de Pastoral de Conjunto 1966-1967, como está registrado na apresentação do referido Plano:
“No começo de 1966, após o encerramento do Concílio, para responder ao convite do Papa, que num discurso importante, engajava todos os Bispos da América Latina numa renovação de caráter extraordinário, unitário e planificado, sentimos a necessidade de reunir com Dom Távora, alguns presbíteros, religiosas e leigos para, juntos, estudarmos o referido discurso de Paulo VI, refletirmos em comum, determinar os setores prioritários de pastoral.

O primeiro encontro foi realizado nos dias 18 e 19 de fevereiro. No seu comentário do discurso do Papa, Dom Távora ressaltou as seguintes palavras: “Precisamos duma pastoral dinâmica adaptada às transformações atuais”. Em círculos, tentamos descobrir “essas transformações”. Esta reflexão em comum permitiu determinar como [estruturar] setores prioritários na pastoral da Arquidiocese: setor estudantil e setor operário. Um grupo de trabalho para cada setor seria encarregado de dinamizar a pastoral dos mesmos. Houve tentativas de criação do Grupo de Trabalho do setor estudantil, sem sucesso. O GT do setor operário se reuniu semanalmente, coordenando todos os movimentos católicos.

Após os dias de estudo realizados em fevereiro, a Equipe Central do Secretariado recebeu e estudou o Plano Nacional de Pastoral de Conjunto 1966-1967, elaborado pelo Secretariado Nacional de Pastoral da CNBB, o qual convidava todas as dioceses a um esforço de renovação de conjunto, e aconselhava cada diocese elaborar um plano de pastoral, enquadrando-se nas diretrizes do Plano Nacional.
Em março deste mesmo ano (1966) a referida equipe elaborou um pré-plano (maio de 1966 – novembro de 1966) cuja finalidade seria levar presbíteros, religiosos e leigos da Arquidiocese a uma consciência mais objetiva da necessidade de uma pastoral de conjunto, a fim de poderem atuar ativamente na elaboração e na execução do Plano Diocesano, baseado nas diretrizes do Plano Nacional. Para atingir este objetivo, foi tomada como primeira iniciativa a criação da Assembleia Arquidiocesana, constituída de presbíteros, religiosos e leigos que, com o Sr. Arcebispo, devia assumir mais diretamente a elaboração do Plano Diocesano. Foi também lançado um boletim mensal de pastoral, órgão de ligação dos membros da Assembleia Arquidiocesana. E de informação pastoral para o clero.
Paralelamente foram planejados um programa de atualização para o clero, para as religiosas e para os leigos e um programa de dinamização dos serviços mais necessários para desenvolver uma pastoral de conjunto” .
Na prática, encontramos algumas experiências que, devido ao contexto da ditadura militar e às tensões internas na Igreja, em Aracaju, duraram pouco tempo: as comunidades sacerdotais (grupo de padres assumindo áreas pastorais) comprometidas com o homem do campo e comunidades de religiosas inseridas no meio dos pobres. Encontramos também sementes de formação de comunidades eclesiais nas periferias de Aracaju e a relação estreita da Igreja com a classe trabalhadora, principalmente do meio rural.

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