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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Somos todos da Idade Média, por Hilário Franco Júnior

Pouca gente se dá conta, mas muitos hábitos, conceitos e objetos tão presentes no nosso dia-a-dia, inclusive o próprio idioma que falamos, vêm daquela época.
Muitos professores consideram especialmente árdua a tarefa de ensinar História Medieval. A distância que separa os alunos de época tão remota, argumentam alguns, seria um dos principais obstáculos. Como despertar seu interesse por tema tão antigo? Como passar às novas gerações conceitos, idéias e fatos que, aparentemente, têm tão pouco a ver com o mundo de hoje? Mas seria bem diferente se eles mostrassem a seus discípulos que, como veremos a seguir, e embora muita gente não se dê conta, nosso próprio cotidiano está impregnado de hábitos, costumes e objetos que vêm de muito mais longe do que se pode imaginar.
Ao tratarmos da História do Brasil, por exemplo, a tendência é começar no dia 22 de abril de 1500, quando Pedro Álvares Cabral e os tripulantes de sua esquadra “descobriram” nossa terra. Mas aqueles homens não traziam atrás de si, dentro de si, toda uma história? Não trouxeram para cá amplo conjunto de instituições, comportamentos e sentimentos? Aquilo que é até hoje o Brasil não tem boa parte da sua identidade definida pela longa história anterior de seus “descobridores”? Dizendo de outro modo, nossas raízes são medievais, percebamos ou não este fato.
Calças do século IV,
encontradas no pântano
Thorsberg, Alemanha
Pensemos num dia comum de uma pessoa comum. Tudo começa com algumas invenções medievais: ela põe sua roupa de baixo (que os romanos conheciam mas não usavam), veste calças compridas (antes, gregos e romanos usavam túnica, peça inteiriça, longa, que cobria todo o corpo), passa um cinto fechado com fivela (antes ele era amarrado). A seguir, põe uma camisa e faz um gesto simples, automático, tocando pequenos objetos que também relembram a Idade Média, quando foram inventados, por volta de 1204: os botões. Então ela põe os óculos (criados em torno de 1285, provavelmente na Itália) e vai verificar sua aparência num espelho de vidro (concepção do século XIII). Por fim, antes de sair olha para fora através da janela de vidro (outra invenção medieval, de fins do século XIV) para ver como está o tempo.
Ao chegar na escola ou no trabalho, ela consulta um calendário e verifica quando será, digamos, a Páscoa este ano: 23 de março de 2008. Assim fazendo, ela pratica sem perceber alguns ensinamentos medievais. Foi um monge do século VI que estabeleceu o sistema de contar os anos a partir do nascimento de Cristo. Essa data (25 de dezembro) e o dia de Páscoa (variável) também foram estabelecidos pelos homens da Idade Média. Mais ainda, ao escrever aquela data – 23/3/2008 –, usamos os chamados algarismos arábicos, inventados na Índia e levados pelos árabes para a Europa, onde foram aperfeiçoados e difundidos desde o começo do século XIII. O uso desses algarismos permitiu progressos tanto nos cálculos cotidianos quanto na matemática, por serem bem mais flexíveis que os algarismos romanos anteriormente utilizados. Por exemplo, podemos escrever aquela data com apenas sete sinais, mas seria necessário o dobro em algarismos romanos (XXIII/III/MMVIII).
Livro Medieval: Bridwell Library
Para começar a trabalhar, a pessoa possivelmente abrirá um livro para procurar alguma informação, e assim homenageará de novo a Idade Média, época em que surgiu a idéia de substituir o incômodo rolo no qual os romanos escreviam. Com este, quando se queria localizar certa passagem do texto, era preciso desenrolar metros de folhas coladas umas nas outras. Além disso, o rolo desperdiçava material e espaço, pois nele se escrevia apenas de um lado das folhas. O formato bem mais interessante do livro ficou ainda melhor com a invenção da imprensa, em meados do século XV, que permitiu multiplicar os exemplares e assim barateá-los. Tendo encontrado o que queria, a pessoa talvez pegue uma folha em branco para anotar e, outra vez, faz isso graças aos medievais. Deles recebemos o papel, inventado anteriormente na China, mas popularizado na Europa a partir do século XII. Mesmo ao passar suas idéias para o computador, a pessoa não abandona a herança medieval. O formato das letras que ali aparecem, assim como em jornais, revistas, livros e na nossa caligrafia, foi criado por monges da época de Carlos Magno.
Relógio Medieval de Praga,
 por Emilia Duarte
Sentindo fome, a pessoa levanta os olhos e consulta o relógio na parede da sala, imitando gesto inaugurado pelos medievais. Foram eles que criaram, em fins do século XIII, um mecanismo para medir o passar do tempo, independentemente da época do ano e das condições climáticas. Sendo hora do almoço, a pessoa vai para casa ou para o restaurante e senta-se à mesa. Eis aí outra novidade medieval! Na Antiguidade, as pessoas comiam recostadas numa espécie de sofá, apoiadas sobre o antebraço. Da mesma forma que os medievais, pegamos os alimentos com colher (criada aproximadamente em 1285) e garfo (século XI, de uso difundido no XIV). Terminada a refeição, a pessoa passa no banco, que, como atividade laica, nasceu na Idade Média. Depois, para autenticar documentos, dirige-se ao cartório, instituição que desde a Alta Idade Média preservava a memória de certos atos jurídicos (“escritura”), fato importante numa época em que pouca gente sabia escrever.
À noite, enfim, a pessoa vai à universidade, instituição que em pleno século XXI ainda guarda as características básicas do século XII, quando surgiu. As aulas, com freqüência, são dadas a partir de um texto que é explicado pelo professor e depois debatido pelos alunos. Alguns deles recebem um auxílio financeiro para poderem estudar, como no colégio fundado pelo cônego Roberto de Sorbon (1201-1274) e que se tornaria o centro da Universidade de Paris. Depois de mais um dia de trabalho e estudo, algumas pessoas querem relaxar um pouco e passam na casa de amigos para jogar cartas, divertimento criado em fins do século XIV, como lembram os desenhos dos naipes e a existência de reis, rainhas e valetes. Outros preferem manter a mente bem ativa e vão praticar xadrez, jogo muito apreciado pela nobreza feudal, daí a presença de peças como os bispos, as torres e as rainhas.
Peças de jogo de xadrez de Carlos Magno
Durante todas essas atividades, pensamos, falamos, lemos e escrevemos em português, sem, na maioria das vezes, nos darmos conta de que esse elemento central do patrimônio cultural brasileiro vem da Idade Média. E não só porque a nossa língua nasceu em Portugal medieval. Como qualquer língua, com o passar do tempo o português falado na sua terra de origem foi se alterando bastante. Muitas características do idioma falado hoje em dia em Portugal – inclusive o que chamamos de sotaque daquele povo – são do século XIX. Mas no Brasil aquele idioma foi introduzido no século XVI por colonos que falavam da mesma forma que cem ou duzentos anos antes, isto é, como em Portugal medieval. Além disso, sendo o Brasil muito vasto e muito distante da metrópole portuguesa, as lentas transformações na língua demoravam mais para chegar aqui. Em resumo, falamos hoje um português mais parecido com o da Idade Média do que com o de Portugal moderno.
Estudos recentes mostraram que idosos analfabetos do interior de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo usavam, em fins do século XX, formas do português dos séculos XIII-XVI. Essas pessoas ainda falam esmolna em vez de “esmola”, pessuir e não “possuir”, despois no lugar de “depois”, preguntar para dizer “perguntar”. Contudo, não se trata propriamente de erros, e sim de exemplos de manutenção de formas antigas, levadas àqueles locais pelos bandeirantes nos séculos XVI e XVII. Devido ao isolamento e à pobreza daquelas regiões, esse modo de falar prolongou-se pelos séculos seguintes.
Basta uma rápida olhada em qualquer aglomerado humano no Brasil, seja no metrô, num estádio de futebol ou simplesmente nas ruas, para se constatar o que todos sabemos: a população brasileira tem alto grau de mestiçagem. Nada estranho, já que a terra era habitada por diferentes tribos indígenas quando os portugueses aqui chegaram, e logo foram introduzidos muitos escravos africanos. O que se ignora com freqüência, porém, é que se os dominadores portugueses aceitaram com facilidade a mestiçagem, é porque ela fazia parte da sua prática social havia muito tempo. Eles resultavam da mistura entre celtas, romanos, germanos, berberes (população do norte africano), árabes, judeus e negros. Importantes historiadores já afirmaram que, pelo menos até o século XIV, os mouros não devem ser considerados uma etnia, e sim uma minoria religiosa, porque, em termos raciais, não havia diferença entre portugueses cristãos e portugueses muçulmanos. Portanto, os portugueses já eram mestiços ao chegarem à América, o que facilitou a mistura racial na colônia.
Estudar História – de qualquer época e de qualquer local – não deve ser tarefa utilitarista, não deve “servir” para alguma coisa específica. A função de seu estudo é mais ampla e importante; é desenvolver o espírito crítico, é exercitar a cidadania. Ninguém pode atingir plenamente a maturidade sem conhecer a própria história, e isso inclui, como não poderia deixar de ser, as fases mais recuadas do nosso passado. Assim, estudar História Medieval é tão legítimo quanto optar por qualquer outro período. Mas não se deve, é claro, desprezar pedagogicamente a relação existente entre a realidade estudada e a realidade do estudante. Neste sentido, pode ser estimulante mostrar que, mesmo no Brasil, a Idade Média, de certa forma, continua viva.
Hilário Franco Júnior é professor da Universidade de São Paulo e autor de A Idade Média, nascimento do Ocidente (Brasiliense, 2006) e de “Raízes medievais do Brasil” (Revista USP, 2008). 
Texto retirado de “Revista de História da Biblioteca Nacional”, publicado em 01/03/2008.



terça-feira, 13 de maio de 2014

O mal-estar social e uma herança de desigualdades. Desafios a serem superados. Entrevista especial com Tânia Bacelar de Araújo

“A situação social melhorou um pouco, mas a grande maioria da população vive em condições sociais muito adversas e o tamanho da melhora não é suficiente para o tamanho das dificuldades que temos de enfrentar”, avalia a economista.
“O governo é um ente que, quando entra na economia, não gera renda; ele apropria a renda que a economia gera. Quando dizemos que o governo paga, alguém está pagando pelo governo, e geralmente são os que têm menos poder de pressão no governo que pagam”. A ponderação é da economista Tânia Bacelar de Araújo, em entrevista concedida pessoalmente à IHU On-Line, na última quinta-feira, quando esteve na Unisinos, participando do XV Simpósio Internacional IHU. Alimento e Nutrição no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Interferências como essa, acompanhadas de complicadores externos e internos, geraram a “espiral em que estamos há duas décadas”, com uma elevada dívida pública, pontua. A solução para resolver essa questão, contudo, não consiste na manutenção de um estado mínimo, mas, sim, em “reequilibrar a conta do governo. E isso deve ser feito a médio prazo, porque não dá para fazer isso no curto prazo”, assegura. Apesar de a resposta parecer simples, “esse é um grande problema”, diz Tânia Bacelar de Araújo, na entrevista a seguir.
Na avaliação da economista, os impactos da dívida pública são sentidos em todas as áreas sociais, “porque o governo fecha no vermelho e precisa se financiar. Para isso, ele emite títulos para quem tem dinheiro financiá-lo e paga uma taxa de juros muito alta a essas pessoas”. Por isso, acentua, há cortes na saúde, na educação, nos investimentos, “porque não dá para cortar a parte do investidor, já que o governo depende dele para continuar se financiando”.
Apesar das conquistas sociais dos últimos anos, Tânia também identifica um mal-estar na sociedade brasileira, o qual emergiu nas manifestações de junho do ano passado. Essa insatisfação está relacionada com a “herança de desigualdades” do país e com o fato de o Brasil não ter superado esse passado. “Quando as pessoas melhoram de condição de vida, elas querem mais. É uma condição da natureza humana querer melhorar. E como se teve uma melhora, se viu que é possível melhorar, e isso estimula cobrar mais”, assinala.
Tânia Bacelar possui graduação em Ciências Sociais pela Faculdade Frassinetti do Recife, graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Pernambuco, diploma de Estudos Aprofundados - D.E.A. pela Universidade de Paris I, Panthéon-Sorbonne e doutorado em Economia Pública, Planejamento e Organização do Espaço pela Universidade de Paris I, Panthéon-Sorbonne. Exerceu vários cargos públicos e atualmente é professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, sendo também sócia da Consultoria Econômica e Planejamento - CEPLAN.
Confira a entrevista. 
IHU On-Line - Que momento o Brasil vive em relação à economia? Qual seu diagnóstico de como o governo Dilma tem conduzido a economia do país?
Tânia Bacelar de Araújo – O Brasil vive um momento de dificuldades. O contexto em que a presidente Dilma assumiu a presidência é diferente do contexto em que o presidente Lula governou. É o mesmo partido que domina o governo, é a mesma coligação política, mas o contexto em que eles assumiram é muito diferente. Foi muito mais favorável no governo Lula e menos favorável no governo Dilma. O elemento de definição disso é a crise de 2008, que foi se aprofundando e a partir de 2010 a economia brasileira sentiu mais os impactos da crise mundial. A presidente também cometeu alguns equívocos e estamos pagando um preço por isso.
IHU On-Line – Quais equívocos?
Tânia Bacelar – Por exemplo, ter baixado a taxa de juros, que é uma coisa que Lula não fez, mas ela fez. O caso é que ela fez sozinha.
IHU On-Line – Ela não teve apoio? Não deveria ter baixado a taxa de juros?
Tânia Bacelar de Araújo – Poderia, mas a conjuntura em que isso aconteceu era mais adversa e ela preparou pouco, politicamente, essa atitude para o tamanho da ousadia que iria patrocinar.
Aí ela teve de recuar e perdeu a batalha, tendo que voltar as taxas de juros a um patamar muito elevado, e esse é um dos problemas da economia brasileira. Como o governo brasileiro é deficitário, ele depende de financiamento, através da emissão de títulos, para poder fechar as suas contas. O tamanho da dívida pública brasileira é muito alto, e como a taxa de juro também é muito alta, quanto mais se eleva a taxa de juros, mais o governo paga de rendimentos a quem empresta dinheiro a ele. Então, é bom para quem tem excedente financeiro e péssimo para a maioria da população e para o país no seu conjunto. O Brasil não conseguiu sair dessa situação.

"Identifico uma situação de crise, mas não diria que é desindustrialização"

IHU On-Line – Nesse sentido, são mais os fatores externos ou internos que determinam a situação econômica do Brasil atualmente? À época do governo Lula havia bastante expectativa de crescimento no longo prazo por conta do crescimento do PIB de 7%, mas, por outro lado, havia algumas críticas no sentido de que esse crescimento era causado por conta da situação externa e não interna. Além da crise internacional e da dívida pública brasileira, quais são os outros fatores que fazem com que o Brasil se encontre nessa situação econômica?
Tânia Bacelar de Araújo – O contexto externo teve uma força grande, mas a presidente Dilma entrou no governo em 2011 com o “freio na mão”, pressionada por fazer o ajuste das contas públicas. Teve, portanto, nesse sentido, problemas internos, e não somente problemas externos. Também tem a força de alguns setores dentro do país; não é só o governo. A força da indústria automobilística, por exemplo, tem um peso muito grande na economia, então, tanto Lula quanto Dilma deram subsídio para as pessoas comprarem mais carros. Essa medida é boa no curto prazo, porque gera emprego, mas é ruim no longo prazo, porque vai na contramão das tendências do século XXI e está criando um problema de mobilidade.

"O Brasil tem uma renda média muito baixa. O que Lula fez foi aumentá-la um pouquinho"

IHU On-Line – A senhora também identifica um cenário de desindustrialização?
Tânia Bacelar de Araújo – Identifico uma situação de crise, mas não diria que é desindustrialização. Há um problema de competitividade industrial brasileira, que foi onde o Estado fez a principal aposta no século XX, mas não localizo esse problema no período recente. Essa dificuldade se coloca com muita força na década de 1990, quando o governo Collor iniciou uma abertura comercial muito rápida. A indústria brasileira era protegida e ele quis desprotegê-la e fez isso muito depressa ao baixar as taxas de importação rapidamente. Isso gerou um choque interno negativo, porque várias das cadeias produtivas industriais brasileiras perderam a competição para outros países, ou seja, o Brasil perdeu mercado interno pelos competidores externos. Esse processo veio se aprofundando na década inicial do século XXI.
Trata-se, portanto, de um processo que já tem duas décadas. Hoje o Brasil perde espaço para a China, por exemplo, com muita força, em vários segmentos em que a indústria brasileira já ocupou esse mercado.
A renda melhorou, o consumo por bens industriais aumentou e o Brasil cedeu seu mercado à produção externa, perdendo imposto, emprego e mercado externo também. Então, o Brasil tem, sim, um problema a enfrentar na indústria. A discussão é como se enfrenta esse problema. Há um choque de produtividade que precisa ser dado. A indústria brasileira precisa investir mais em inovação, porque os mercados que estão ganhando do mercado brasileiro fizeram isso.

"Todos os segmentos sofrem com isso, porque a sociedade carrega essa dívida"

IHU On-Line – Então, o baixo índice de expressividade da indústria, indicado este ano, é consequência de políticas dos anos 1990?
Tânia Bacelar de Araújo – É o desdobramento do que vivemos nos anos 1990, mas com problemas adicionais: a crise reduziu o mercado mundial. E aí os competidores vieram para o Brasil, porque enquanto havia crise no exterior, o país estava crescendo. O Brasil se tornou atrativo para os países mais competidores que tinham como vir para cá; com isso nós perdemos espaço.
IHU On-Line - Em relação à política de crédito para movimentar o consumo interno brasileiro, o governo apostou demais nessa medida ou esteve atento à hora de reduzi-la?
Tânia Bacelar de Araújo – Não, porque o Brasil tem uma renda média muito baixa. O que Lula fez foi aumentá-la um pouquinho. Para ampliar o consumo, tem de juntar renda com crédito, e foi isso que Lula fez. Os limites de endividamento não são tão altos no Brasil e, portanto, ainda há limite de endividamento. A taxa de inadimplência também não é absurda, o que significa que as pessoas tiveram juízo e não comprometeram totalmente a sua renda. A ampliação do crédito em tão curto prazo deu chance para as pessoas adquirirem bens aos quais elas não teriam acesso se não fosse o sistema de crédito. Isso melhorou as condições de vida de muita gente. Nós que somos mulheres sabemos qual é a diferença entre ter e não ter uma máquina de lavar roupa.

"É preciso aprender a ser feliz com outro padrão de consumo"

IHU On-Line – Em que áreas é possível sentir as implicações da dívida pública?
Tânia Bacelar de Araújo – Em todas as áreas, porque o governo fecha no vermelho e precisa se financiar. Para isso, ele emite títulos para quem tem dinheiro financiá-lo e paga uma taxa de juros muito alta a essas pessoas. Então, isso gera uma renda adicional para os que são superavitários e podem emprestar ao governo. Essa situação, hoje — e desde os anos 1980 —, leva à maior parte do gasto do governo. Aí, o que o governo faz? Corta na outra parte.
Então, cada vez que o pessoal que aplica cobra ajuste do governo, está cobrando que ele corte gastos na saúde, na educação, nos investimentos, porque não dá para cortar a parte do investidor, já que o governo depende dele para continuar se financiando.
Todos os segmentos sofrem com isso, porque a sociedade carrega essa dívida. O governo é um ente que, quando entra na economia, não gera renda; ele apropria a renda que a economia gera. Quando dizemos que o governo paga, alguém está pagando pelo governo, e geralmente são os que têm menos poder de pressão no governo que pagam.
IHU On-Line – A alternativa é Estado mínimo na economia, como propõem os neoliberais? Ou o Estado deve atuar de que forma?
Tânia Bacelar de Araújo – Não. Proponho reequilibrar as contas do governo. E isso deve ser feito a médio prazo, pois não dá para fazer isso no curto prazo. Esse é um grande problema, porque, por exemplo, em relação à dívida externa, os mais radicais propõem moratória, mas quando se faz moratória da dívida externa, estoura lá fora. Quando se propõe moratória da dívida interna, estoura na nossa “cabeça”. Então, nenhuma solução radical pode ser dada.
Tem de ter uma solução construída ao longo do tempo. E uma peça chave nesse processo é a taxa de juro mais baixa, porque a taxa de juro muito alta recria a dívida só para pagar os juros, e ficamos nessa espiral em que estamos há duas décadas. Isso precisa ter um escalonamento no tempo. Já melhorou, porque a dívida já foi muito mais alta do que é hoje, mas ainda é muito pesada. Tanto que, quando olhamos o orçamento da União, percebemos que o seu principal gasto continua sendo de despesas com o pagamento da dívida pública. Aí o país precisa de recursos para investir na agricultura familiar, na educação, na saúde, e esse dinheiro disputa com o outro, porque é o mesmo caixa.


"Precisamos saber como domamos o capitalismo hoje"

IHU On-Line – E como a senhora vê, diante desse quadro, a nova estratégia do governo Dilma, de liberar a entrada de mais capital financeiro no país com a justificativa de investir no desenvolvimento?
Tânia Bacelar de Araújo – O dinheiro externo não resolve isso, porque ele se alimenta desses títulos. Então, além de pagar os ricos do Brasil, ainda pagamos os ricos do exterior, e transfere-se mais renda para o exterior. Há dois tipos de dinheiro externo que entram no Brasil: o de curto prazo, que vai para os títulos do governo, e os que entram para investir na economia e ficar no país. O Brasil tem atraído bastante capital externo, mas isso não resolve o problema dele no sentido das contas a serem pagas pelo governo. Resolve no sentido de ampliar e melhorar a economia, gerando emprego, mas, também, por outro lado, desnacionalizando as empresas, que é outro problema.
IHU On-Line - É possível conciliar desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e sustentabilidade? Como avalia, nesse sentido, as ações do governo brasileiro, levando em conta essas três questões?
Tânia Bacelar de Araújo – É mais fácil trabalhar só com um lado da questão e dizer, por exemplo, que se a economia cresce, se resolve o problema social. O Brasil já foi um exemplo de economia crescendo muito, com cada vez mais agravamento do problema social. Com isso, aprendemos que essa proposta não era viável, que deveríamos cuidar também da questão social e ter políticas públicas para investir também no social. Essa medida ajudou a melhorar o quadro social brasileiro. Por outro lado, combinar a economia com o ambiental é uma tarefa importante, porque precisamos utilizar a natureza, mas depende da forma como a utilizamos. Como a sociedade precisa sanar as suas necessidades, ela precisa utilizar a natureza, mas a questão é como se utiliza a natureza. Uma variável estratégica é o padrão tecnológico. Então, pode-se precisar explorar uma floresta e passar uma motosserra embaixo e cortar todas as árvores de uma vez só: as maduras e as que estão ainda se desenvolvendo. Mas pode-se aproveitar a mesma floresta com corte seletivo, identificando quais são as árvores maduras, tendo mais trabalho para cortar somente essas. Mas na visão de médio e longo prazo há um ganho com isso, porque não se destruíram as árvores que estavam nascendo, as quais serão usadas quando estiverem maduras. Então, a tecnologia do corte seletivo resolveu o seu problema.
A outra forma de fazer esse diálogo é pensar em como conciliar as necessidades da população com a natureza. A grande variável é o padrão de consumo: não precisa consumir tanto e estragar tanto. Há um padrão de consumo que algumas sociedades construíram no século XX, o qual acabamos copiando. Esse modelo termina gerando um desejo nas pessoas, mas, muitas vezes, trata-se de bens supérfluos e é possível viver muito bem sem eles, ou viver com eles em menor quantidade.
Esse debate acerca do padrão de consumo remete a valores, à visão de mundo, a valores culturais. A mesma sociedade pode viver bem com outro padrão de consumo. Essa é uma discussão importante, porque ajuda a usar a natureza com mais cuidado, porque o perfil de demanda não é mais tão exigente do uso da natureza. É possível, portanto, optar pelo transporte individual — e aí estamos gerando problemas para a natureza —, ou optar por se deslocar com transporte coletivo, gerando menos problema. Existem muitos países que fizeram essa opção antes do Brasil e as pessoas se deslocam melhor do que nós. Precisamos aprender a discutir os nossos valores de consumo. Digo que é preciso aprender a ser feliz com outro padrão de consumo. E é possível.

"O Brasil já foi um exemplo de economia crescendo muito, com cada vez mais agravamento do problema social"

IHU On-Line - É possível identificar a proposta econômica dos candidatos à Presidência da República, Aécio Neves, Eduardo Campos e Dilma Rousseff?
Tânia Bacelar de Araújo – No Brasil recente, há uma bipolarização entre o PSDB e o PT liderando polos opostos. As últimas eleições foram muito marcadas por essa bipolarização. Esses partidos têm projetos de país distintos; mostrou-se isso na década de 1990, quando predominou um e depois predominou outro. Entre os dois têm diferenças importantes. Por exemplo, Aécio está dizendo que vai rever a legislação trabalhista, que é um grande clamor das assim chamadas classes produtoras.
A Dilma não reviu e também não pretende rever. Eduardo disse há poucos dias que, nesse ponto, está ao lado de Dilma. Eduardo tende mais a ter um projeto parecido com o de Dilma, embora hoje ele pareça mais próximo do Aécio. Mas por conta da sua origem, da origem do partido dele e da Marina eles têm mais a ver com o projeto de Dilma. Aécio quer mais flexibilização das leis trabalhistas, mais terceirização. Os sindicatos, por sua vez, querem rever a jornada trabalhista, mas nem Lula nem Dilma toparam rever a jornada de trabalho. Essa é uma bandeira mais dos movimentos sindicais do que dos partidos.
A economia mudaria mais com Aécio do que com Eduardo. Eduardo parece que faria uma política mais parecida com a atual. Os candidatos estão se colocando agora, e Aécio e Eduardo pareciam muito juntos, mas esta semana eles se distinguiram no debate da reforma trabalhista e esse é um ponto importante. Lembro que, na ocasião da crise de 2008, Lula foi a um seminário do qual eu participei em Brasília, e a primeira frase que ele disse foi: “Não me peçam para jogar a crise nas costas dos trabalhadores”. Então, ele tem uma definição política, e aquele era um marco. Isso tem diferença.

"Quando olhamos o orçamento da União, percebemos que o seu principal gasto continua sendo de despesas com o pagamento da dívida pública"

IHU On-Line – Diante desse contexto de melhorias sociais ao longo da última década — como a senhora apontou —, percebe, por outro lado, um mal-estar na sociedade brasileira a partir das manifestações de junho? Quais são as razões disso, se o país melhorou?
Tânia Bacelar de Araújo – Há um mal-estar por conta de duas razões: primeiro, pela história, porque a herança brasileira de desigualdade social é muito grande e, segundo, porque o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais, socialmente, do mundo. Só perdia para Honduras e Serra Leoa. Com os anos, o país melhorou, mas hoje ainda se encontra pelo décimo lugar — passamos do terceiro para o décimo, mas ainda estamos entre os dez mais desiguais. Isso tem um peso muito grande.
A situação social melhorou um pouco, mas a grande maioria da população vive em condições sociais muito adversas, e o tamanho da melhora não é suficiente para o tamanho das dificuldades que temos de enfrentar. Essa é uma situação que gera insatisfação. Além disso, quando as pessoas melhoram de condição de vida, elas querem mais. É uma condição da natureza humana querer melhorar. E como se teve uma melhora, se viu que é possível melhorar e isso estimula cobrar mais. Nesse sentido, a sociedade brasileira tem razão: ela quer educação de qualidade. O Brasil não faz estádios no padrão FIFA? Então, a sociedade vai para a rua dizer que também quer educação e saúde no padrão FIFA. A sociedade quer mais, porque não basta Bolsa Família, não basta aumentar um pouquinho a renda. Os pais querem que seus filhos tenham outra perspectiva, querem que, quando se necessita de um atendimento da saúde, se tenha um atendimento decente. Nesse sentido, as manifestações são boas.

"Os sindicatos, por sua vez, querem rever a jornada trabalhista, mas nem Lula nem Dilma toparam rever a jornada de trabalho"

IHU On-Line - A senhora está lendo o livro do Thomas Piketty, Capital in the 21st Century (O capital no século XXI). Quais suas impressões do que já leu e qual a relevância da obra para a discussão acerca do capitalismo e das desigualdades sociais?
Tânia Bacelar de Araújo – Sim, estou lendo e também já assisti a uma palestra dele sobre o livro, disponível no YouTube. A obra é interessante porque, primeiro, ele faz uma denúncia de que a desigualdade está aumentando, e o capitalismo do século XXI é marcado pelas desigualdades. Ele faz uma distinção importante entre a geração de riqueza na produção e a geração de riqueza a partir do patrimônio, somente, sem gerar produção. Ele mostra que estamos num mundo muito complicado, em que a riqueza se gera mais a partir da propriedade do patrimônio do que produzindo. E a grande maioria das pessoas só consegue inserção na vida econômica através da produção. Esse é o problema.
Tem uma denúncia interessante no estudo que ele fez. Trata-se de uma obra respeitada, porque ele lida com estatísticas e não faz um discurso ideológico — mas claro que tem uma visão ideológica em tudo que fazemos —, mas fundamenta a visão que está sustentando a partir de uma base de informações consistentes, a qual deu força ao argumento dele.
Tem uma crítica importante sendo feita a ele, porque no fim do livro a proposta principal é a de que, já que isso está acontecendo, a solução é taxar o patrimônio, e quem é rico não está gostando.
IHU On-Line – É a proposta ideal?
Tânia Bacelar de Araújo – É uma proposta antiga, já vinha sendo defendida pelo Tobin. A taxa Tobin [1] é isso: quando ele percebeu que os fluxos cresceram muito e que as pessoas estavam ganhando muito dinheiro na esfera financeira, ele propôs a taxação financeira. A CPMF era um imposto sobre a circulação financeira. Infelizmente, o Brasil acabou com essa taxação no governo Lula, mas foi uma derrota de Lula; ele foi derrotado no Congresso.
(Por Patricia Fachin)
NOTA
[1] Taxa Tobin: é um tributo proposto pelo economista americano James Tobin, da Universidade de Yale, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1981. Esse tributo incidiria sobre as movimentações financeiras internacionais de caráter especulativo.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

EXERCICIOS DE FIXAÇÃO SOBRE FENICIOS, HEBREUS E PERSAS

ROTEIRO DA ATIVIDADE:
2- Complete o quadro abaixo, descrevendo características principais de cada uma das civilizações:

Fenicios
Hebreus
Persas
Localização:



Política:



Economia:



Religião:



Legado:












ROTEIRO DA ATIVIDADE:
1 - Questionário sobre os Hebreus
a) Qual era a localização da Terra Prometida?
b) Explique o que os hebreus tiveram que fazer para chegar à Terra Prometida.
c) Quem foram os patriarcas?
d) O que significa patriarcalismo?
e) Explique o que são as 12 tribos de Israel e qual a sua importância para a construção histórica de Israel.
f) Qual foi a importância de Moisés para os hebreus?
g) Qual a relação do Código de Hamurabi com as tábuas dos 10 mandamentos?
h) Que rei construiu o templo de Jerusalém?
i) Quais eram os dois reinos dos hebreus?
j) O que significa a palavra Diáspora?
l) Como e por que ocorreu a primeira diáspora?
m) O que é a Torá?
2 - Pesquisar acerca dos períodos da História Antiga dos Hebreus, abaixo indicados.
Período dos patriarcas
Período dos juízes
Período da monarquia
Período do exílio
Período das dominações estrangeiras


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Até que ponto a bíblia pode ser usada como fonte de conhecimento historico?

ate que ponto a bíblia pode ser usada como fonte de conhecimento historico?
Melhor resposta
Nós historiadores usamos a bíblia como DOCUMENTO histórico, o q não deixa de ser uma fonte histórica. Isso não significa que acreditemos ou deixemos de acreditar no que está escrito nela, e sim que a usamos para pesquisar sobre determinado período. Hoje se tem correntes muito fortes pesquisando a "História das Mentalidades", e a Bíblia, em suas mais diversas traduções e versões pelo passar dos anos, tem sido uma fonte formidavel para entender o que  pensavam e o que queriam dizer as pessoas que a escreveram e as que a comentaram depois.

Nós não fazemos isso apenas com a Bíblia, mas também com qualquer outro artefato deixado pelo passado. No primeiro ano de faculdade, aprendemos que ao ler um livro de História podemos extrair mais informações sobre o historiador q o escreveu e o contexto histórico em que ele se insere, do que sobre o período que ele aborda em sua obra. É a mesma coisa com a Bíblia.

Agora, se vc se refere exclusivamente ao texto, vendo a bíblia como uma crônica histórica (= relato de uma testemunha do ocorrido), vc deve tomar muito cuidado. Algumas coisas são realtivamente faceis de perceber (Ex.: realmente a Judéia estava sobre dominio do Império romano.), mas outras extremamente complicadas (deixando de lado a questão da fé de cada um, como saber que as pessoas, suas falas e demais ações descritas realmente aconteceram? E, e se sim, foi dessa forma?). Por isso nós historiadores, quando buscamos um fato histórico, sempre cruzamos as mais diversas informações. Não afirmamos, por exemplo ,que um determinado governante existiu apenas por tê-lo encontrado na Bíblia, só aceitamos  sua existência quando defrontada com outras provas.

O uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula



O uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula
Simpósio temático: A sala de aula em perspectiva: desafios e abordagens.

Luciere Cavalcante da Silva[1]



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RESUMO: Neste artigo apresentamos o resultado do projeto de pesquisa cujo intuito consistiu em investigar a importância de como fazer aulas interdisciplinares para estudantes do ensino médio. Este trabalho tem três objetivos: fazer uma discussão metodológica inicial da mitologia (mito) versus História; o uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula, como também apresenta a uma reflexão sobre a interdisciplinaridade. Quem escreveu o mito, ninguém sabe mais é uma verdade transmitida de geração em geração dentro de um determinado grupo. Porque não foi ninguém que contou, ninguém inventou, mas foi algo que aconteceu para determinadas realidades. Embora trate de feitos e aventuras de um imaginário já perdido no tempo, longe do nosso dia-a-dia tecnológico, os mitos continuam a seduzir as pessoas. Já a História busca estabelecer relações entre as diversas produções da cultura e os achados arqueológicos para compreender os processos históricos. Então a Arqueologia é essencial para compreendemos, o uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula, já que, a Arqueologia é o estudo do antigo, o conhecimento neste campo se obtém pela observação e estudo sistemáticos, e os fatos descobertos são avaliados e classificados num conjunto organizado de informações. Na perspectiva escolar, sabemos que a interdisciplinaridade não tem pretensão de criar novas disciplinas. Nesse sentido buscou-se fazer uma coleta dos dados com base no corpus teórico e procedimentos como observação, aulas voltadas para o que se propõem acima.

Palavras-chave: História, Sala de aula, Bíblia.

Introdução

O presente artigo apresenta algumas reflexões sobre as dificuldades dos professores da rede pública de ensino de História, sentem na hora de elaborar aulas interdisciplinares, para estudantes do ensino médio. Tais reflexões efetivaram-se durante a experiência obtida como bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação á Docência (PIBID) de História, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – (CAPES), que tem como intuito promover a melhoria na formação docente de nível básico a futuros licenciados, tendo em vista também contribuir de maneira rápida na formação dos graduandos e em longo prazo, na elevação da qualidade de ensino nas escolas públicas do país.
Tendo como coordenadora do subprojeto - História 2009 a professora Doutora Fátima Martins Lopes. No plano de trabalho do subprojeto – História 2009, é mostrado: “que ao longo dos últimos anos á Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), vem reconhecendo a importância da formação inicial e continuada do professor exige que a instituição dê especial atenção à educação básica”. Há um verdadeiro encontro das iniciativas propostas pela UFRN com as dos PIBID, que objetiva entre outros potencializar a formação dos licenciados no que diz respeito ao trabalho em sala de aula de forma crítica e reflexiva.
Este projeto permite conciliar teoria e prática, tendo como propósito identificar os métodos de ensinar a disciplina de História, e assim contribuindo para a formação docente, que de acordo com as Diretrizes Curriculares Dos Cursos de História os graduandos em específicos os licenciados devem ter “domínio dos métodos e técnicas pedagógicos que permitam a transmissão do conhecimento para os diferentes níveis de ensino”. O alcance do projeto é amplo, pois proporciona condições necessárias para os estudantes desenvolverem o pensamento crítico em suas atividades, bem como compreenderem o contexto social, cultural, político e econômico em que se vive.
O projeto tem como eixo temático leitura crítica de fontes históricas sobre o Império Persa, que são importantes para a compreensão de fontes históricas e para a formação humana na contemporaneidade. Para tanto, foram utilizados alguns materiais didáticos que auxiliaram na pesquisa sobre o tema e no planejamento das aulas, tais como: livros, imagens e inscrições foram alguns materiais utilizados nas estratégias adotadas na metodologia de ensino na turma do 1º ano “A” noturno da Escola Estadual José Fernandes Machado na cidade de Natal estado do Rio Grande do Norte.
Já que Uma vez que, ultimamente a sociedade brasileira passa por grandes mudanças e transformações em sua estrutura como um todo, um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. A escola como lugar de aprendizagem, por sua vez, não pode ser isenta das mudanças, já que segundo a Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, capítulo 2 do ensino médio Art. 35. II – “A preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores” Leis de Diretrizes de Bases (LDB). Então, a escola como um espaço privilegiado deve permitir o acesso dos sujeitos às novas diretrizes curriculares e como também abarca as exigências do mercado e este colabora para nosso desenvolvimento enquanto futuros professores de História.
Como um dos principais agentes de mudanças, o professor, aquele que está presente dia-a-dia com os estudantes na sala de aula, deve sentir a necessidade constante de propor novas formas de aperfeiçoamento profissional que, dependendo do seu público alvo constitui-se em novas formas de ensino, que na proposta de reforma curricular do ensino médio, a interdisciplinaridade tem como finalidade de ser compreendida a partir de uma abordagem relacional, em que se propõe que, por meio da prática escolar, sejam estabelecidas interconexões. Então, entende-se que a integração dos diferentes conhecimentos pode proporcionar condições necessárias para uma aprendizagem motivadora, na medida em que favorece maior liberdade de escolhas e estratégias, aos professores e estudantes para a seleção de conteúdos mais diretamente relacionados aos assuntos.
Desenvolvimento

A preocupação é desmistificar a visão que se tem da disciplina de História, muitas pessoas elucidam como decorativa de datas e nomes importantes de heróis e muito extensa de conteúdos. Sabemos que esse foi um legado deixado pela historiografia, que predominou durante os períodos difíceis, que privilegiou os grupos dominantes e excluiu os agentes transformadores. O papel do professor e educador de História é desmitificar ideias de que existem heróis que lutam sempre pela maioria e que os ditos indivíduos comuns não têm capacidade de transformação por possuírem uma natureza passiva e condicionada. Portanto, o historiador precisa esclarecer para os estudantes que eles são também agentes da história e que podem transformar a realidade em que vivem.
Nessa perspectiva de investigar a importância de fazer aulas interdisciplinares para estudantes do ensino médio, logo vem em mente uma busca desenfreada para utilizar vários recursos didáticos. A utilização de novas tecnologias em sala de aula, que introduzem o vídeo, o filme, a produção de imagens, sons e músicas, como recurso didático importante na facilitação do aprendizado escolar que é uma forma muito utilizada pelos professores atualmente para despertar e provocar nos estudantes um maior interesse pela disciplina de História.
Tendo despertado o interesse pela busca de como elaborar aulas interdisciplinares, veio também o acordar para estudar a Bíblia como fonte histórica, que possibilitasse ser utilizada na sala de aula numa turma de ensino médio. Traçados as bases iniciais da pesquisa, fez-se necessário pesquisar como a Bíblia pode ser trabalhada em sala de aula, em que assuntos são possíveis conceber a mesma como fonte histórica.
E o que chama atenção, embora haja inúmeros artigos, monografias, dissertações com citações bíblicas como: “O mito e a ciência na Bíblia” é um artigo de Maurício Cardoso, formado em História pela Universidade de São Paulo (1996), finalizou o mestrado em História Social (USP, 2002) sobre as relações entre Cinema e História através do filme de Leon Hirszman, São Bernardo (1972). Concluiu, em 2007, o doutorado sobre o cinema de Glauber Rocha pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris X - Nanterre. Atualmente, é professor doutor no Departamento de História da Universidade de São Paulo, com pesquisas sobre as relações entre a indústria cultural e o campo educacional. Tenta mostra que fé e razão são coisas diferentes, os cientistas baseiam suas teorias em informações concretas, resultados de experiências e fatos comprovados. Já as pessoas que concebem a Bíblia como livro divino, retiram suas certezas da convicção de que existe algo verdadeiro que foi revelado pelo próprio Deus.
Os Manuscritos de Qumran e a Teologia do Cristianismo Antigo” de Edgard Leite é doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, professor de História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO), assessor técnico-científico da FAPERJ, e membro do Conselho Acadêmico do Centro de História e Cultura Judaica. É coordenador do GT Regional Rio de História das Religiões e das Religiosidades da ANPUH e do Grupo de Pesquisa do CNPq: Políticas, Direitos, Éticas. Edgar Leite evidencia que os manuscritos de Qumran levantaram questões importantes sobre a teologia do cristianismo antigo, possibilitando a inserção do desenvolvimento do pensamento cristão original no quadro mais amplo do judaísmo, dimensionando, portanto, para o contexto histórico.
Geografia e Arqueologia Bíblica” José Sanches Vallejo Neto (professor Seminário Teológico do Betel Brasileiro e Ação Evangélica), tendo como objetivo informar os alunos da realidade do ambiente bíblico, e do contexto cultural, como também levá-lo a compreender os momentos históricos narrados na Bíblia e os locais e povos envolvidos. Mostra a importância da arqueologia e da geografia Bíblica para as várias descobertas que tem interligação com os relatos bíblicos, como: as escavações realizadas em Ur,cidade de natal de Abraão, que trazem referências de textos sobre a enchente que se pode correlacionar ao relato  do dilúvio;em Susã, na Babilônia, restaurou-se o código de Hamurabi, contemporâneo a Abraão.
 “O Antigo Egipto no Espólio Bibliográfico da Biblioteca Central da Faculdade de Letras da Universidade do Porto”, é Rogério Ferreira de Sousa (doutorado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto). É professor auxiliar do Instituto da Saúde – Norte.
Tem o trabalho de Josué Berlesi, “O êxodo dos hebreus segundo historiadores e arqueólogos: ênfase na perspectiva minimalista a partir da obra de Finkelstein e Silberman”. Berlesi possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e é mestre na área de Teologia e História pela Escola Superior de Teologia (EST), possui experiência na área de História Antiga. Participou das escavações arqueológicas no sítio de Armagedon, em Israel. Se dedica principalmente ao estudo da história antiga oriental. Suas pesquisas se referem, majoritariamente, a historiografia sobre o Israel antigo. Atualmente cursa o doutorado em História pela Universidad de Buenos Aires e trabalha como docente de História Antiga na UFPA Campus Cametá. Neste artigo Berlesi procurou contemplar um grupo de pesquisadores da arqueologia, que tem como consenso a concepção minimalista de Israel Finkelstein e Neil Siberman que buscam novas possibilidades de interpretar a História sobre o Israel antigo, consequentemente sobre o êxodo.
Entre outros trabalhos que se apropriou da Bíblia, como objeto de seus temas e pesquisas, então mediante a leitura percebeu-se insuficiência da problemática colocada acima, em meio há tantos trabalhos é necessário fazer uma escavação profunda nas minas da documentação, para que se possa retirar uma pequena porção de índices de como podemos utilizar a Bíblia como fonte histórica na sala de aula. Isto representa uma dificuldade, mas ao mesmo tempo proporcionar uma relativa importância a esta pesquisa, que procura minimizar essa lacuna com um trabalho árduo, mediante a escassez de trabalhos contundentes.

As diretrizes iniciais

Para formular esse artigo, utiliza-se reflexões de autores como Paulo Freire (1996), Werner Keller (1978), John D. Currid (2003), Amihai Mazar (2003), Flávio Josefo (2004), Finkelstein e Silberman (2003), O acesso a tais autores possibilitou o aprendizado fundamental para minha postura como docente na sala de aula e também facilitou à aplicação de novos métodos de ensino em nosso caso especificamente: o uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula, e assim comprovando, cada vez mais, a importância da Arqueologia como suporte para compreender a Bíblia como o objeto de estudo na disciplina de História.
Então, percebe-se importância da prática pedagógica que vai muito além da pura transferência de informações, tendo o aluno como apenas receptor de tudo que advém do professor,ao contrário da concepção de aluno bancário, ocorre uma dinâmica de construção que se dá por meio das interações professor-aluno, que possibilita um ambiente de criação e produção de conhecimento.
Freire fazendo uma alusão entre a formação docente e o ato de cozinhar, pois este que parece ser tão simples exige do cozinheiro atenção no uso do fogo para mantém o equilíbrio da temperatura, e assim evitar tanto que a comida não queime e que não haja risco de incêndio; ressaltando ainda que a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática sem a qual pode tornar-se uma prática ativista.Critica o ensino tradicional validando suas próprias conclusões que a escola fazia parte do problema, contribuindo para a marginalização da minoria.
Para Paulo Freire (1995, p.23) “quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.” Ao encontrar a arte de ensinar podemos desencadear no aprendiz (estudante) uma vontade de conhecer cada vez mais, fazendo com que ele se torne cada vez mais criador de sua própria história e de seu aprendizado tanto na escola como para os outros determinados fins, como é relatado na (LDB) Art.35. “III- o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”.
Quando pensamos em História remetemos, que de acordo com Vicente Dobroruka (2008, p.1) “para o homem comum uma soma de eventos passados ou uma seção definida dessa totalidade; para os aprendizes do ofício e historiadores profissionais, trata-se antes de tudo da técnica e prática historiográficas”. Já a História busca estabelecer relações entre as diversas produções da cultura e os achados arqueológicos para compreender os processos históricos.
No que se refere ao mito fazemos a oposição de imediato a “história” (ou oposto a “ciência”) escreveu o mito, ninguém sabe mais é uma verdade transmitida de geração em geração dentro de um determinado grupo. Porque não foi ninguém que contou, ninguém inventou, mas foi algo que aconteceu para determinadas realidades. Embora trate de feitos e aventuras de um imaginário já perdido no tempo, longe do nosso dia-a-dia tecnológico, os mitos continuam a seduzir as pessoas.
Dessa forma, segundo (Dobroruka 2008, p.1).

Nesse sentido mais restrito, mito é algo visto como essencialmente religioso atuante na esfera do sagrado e, portanto, impossível de se confundir com algo que se pretende científico como a atividade historiográfica ou uma dada filosofia especulativa da história como, digamos, o positivismo comtiano.


Neste trecho observa que o mito quase sempre é remetido a religião, que até mesmo os primeiros historiadores da antiguidade ao tentar explicar as causas “contundentes” da guerra entre Atenas e Esparta, o próprio Tucídides na introdução elucidava em seu texto algo que não remetesse de modo algum nos testemunhos recolhidos conteúdos místicos. De todo modo, em que nos esforcemos para compreendemos o mito, a tendência é conceber como um ciclo que gira em torno do sagrado e profano se impõe como marco inicial.
O livro de John D. Currid “Arqueologia nas Terras Bíblicas”, é bastante interessante pelo arcabouço teórico, sendo membro do corpo docente do Rformed Theological Seminary e instrutor adjunto no Jerusalem Center for Biblical Studies, ensinado arqueologia a centenas de estudantes em Israel. Fornece informações importantes acerca da arqueologia nas terras bíblicas.
Dessa forma, segundo Currid (2003, p.17)

A disciplina de arqueologia tem uma aplicação muito mais prática para nós. Ela nos diz de onde viemos e como nos desenvolvemos; e também nos dá informações detalhadas a respeito de nossa história, funcionando também como barômetro do futuro.

Nessa citação fica visível a relação da arqueologia como ciência auxiliar da História, ajudando através de informações necessárias, que proporciona dados que muitas vezes os registros históricos escritos normalmente não são conservados.
A arqueologia é frequentemente considerada uma ciência social. De fato, segundo Michales (1996 apud CURRID, 2003 p. 17) ela é “a única disciplina das ciências sociais a se preocupar com a reconstrução e compreensão do comportamento humano com base nos fragmentos deixados por nossos antecessores pré-históricos e históricos”.
Outro livro de bastante relevância teórica é de Amihai Mazar, em “Arqueologia na Terra da Bíblia”, o arqueólogo israelense apresenta trabalhos da dinâmica pesquisa arqueológica em Israel e Jordânia e discute suas implicações para nosso conhecimento. O livro abrange o período que começa com os primeiros assentamentos, por volta de 10.000 A.C; e termina com a destruição do primeiro templo, em 586 a.C; e a dominação babilônica no país. Nesse sentido, para Mazar (2003, p. 23)

A atividade arqueológica em larga escala em Israel e na Jordânia revelou uma quantidade de dados, com uma opulência e variedade desproporcional ao tamanho do país. Centenas de projetos de caráter e objetivos diferentes são conduzidos a cada ano.

A citação que permite que evidenciar a importância da arqueologia em locais descritos pela Bíblia como lugares de grandes acontecimentos divinos, que tem revelados dados consideráveis que nos possibilita trabalhar como a Bíblia como fonte histórica em determinados contextos históricos.
Finkelstein e Silberman (2003) trazem questionamentos a veracidade da Bíblia, The Bible uncarthed em português “E Bíblia não tinha razão”, Finkelstein é autor de importantes estudos no campo da arqueologia da Palestina, foi o Diretor do Instituto de Arqueologia Sonia e Marco Nadler da Universidade de Tel Aviv, Israel, de 1996 a 2002, e co-diretor das escavações de Tel Meguido. Atualmente, 2005, é o titula da Cátedra Jacob M. Alkow de Arqueologia de Israel nas Idades do Bronze e do Ferro da mesma Universidade, e acaba de ganhar o prêmio Dan David. Neil Asher Silberman foi Diretor de Interpretação Histórica do "Ename Center for Public Archaeology and Heritage Presentation", na Bélgica e atualmente 2011 é Professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Massachusetts- Amherst, nos Estados Unidos
  Ambos os autores, contestam a veracidade Bíblica baseados em dados arqueológicos (arqueologia processual), concebem a Bíblia como uma produção da criação da imaginação humana, tendo a pretensão de separar a história da lenda. Segundo Finkelstein e Silberman (2003, p.3) “A estória do antigo Israel e o nascimento de suas escrituras sagradas a partir de uma nova perspectiva, uma perspectiva arqueológica”. Eles buscam desmistificar as lendas que giram em torno da história de Israel conta pela Bíblia, que para eles Para tais o propósito vai além de desmontar conhecimentos ou crenças em relação à Bíblia, mas partilhar dados arqueológicos recentes que ajudam a reconstruir a real história escondida atrás da Bíblia.
Finkelstein e Silberman compartilham de uma concepção minimalista entende que tudo que não é minuciosamente corroborado evidências arqueológicas contemporâneas aos acontecimentos, devem ser corrigido ou abandonado. Não é suficiente a Bíblia diz que existiu um profeta chamado Davi, na visão de ambos os autores:
 Não existe evidência arqueológica que sustente as mais populares histórias da     Bíblia, como o Êxodo, a peregrinação pelo deserto do Sinai, a conquista de Josué sobre Canaã [...] O rei Davi que teria feito de Jerusalém a capital do reino unido e seria o Messias, não existiu, quem existiu foi um pobre líder tribal.

O trecho relata uma concepção minimalista que é muito restrita entre alguns arqueólogos, que contemplam uma visão da Bíblia como um compêndio de histórias e mitos de uma determinada sociedade, sem nenhum valor histórico. Essa é a percepção destes autores, que existe uma propaganda enganosa em relação à Judá, uma negação extrema do Êxodo. Esses autores criticam a visão tradicional que os hebreus foram escravos no Egito e lá seguiram para conquistar Canaã e também vão concluir a impossibilidade do êxodo no século XIII AEC. Entre outras coisas, eles alegam que, nesta época, a fronteira do Egito com Canaã era severamente controlada, e que segundo eles a arqueologia comprovou na década de 1970; que não existe nenhum sinal de ocupação do Sinai.
Porém, longo desses argumentos consistirem um consenso entre os arqueólogos como: Ephraim Stern; Amnon Bem-Tor; Amihai Mazar da (Universidade Hebraica), Lawrence Stager da (Universidade de Harvard),Seymour Gitin do (Albright Institute of Archaeology Jerusalém); Timothy Harrison da (Universidade de Toronto) e por fim, David Ussishkin (Universidade de Tel Aviv) que foi por anos companheiro de Finkelstein na escavações de Megido. Esses são apenas uns poucos nomes que procurando mantém uma linha que ainda merece credibilidade histórica ao relato bíblico.
Então é a partir dessas leituras, que se pretende ampliar o foco desta pesquisa ainda pouco explorado tendo como objetivo mostra que é possível trabalhar com a Bíblia como fonte histórica na sala de aula, sendo apoiada pela arqueologia que tem como algo descobrir, resgatar, observar e preservar fragmentos enterrados da antiguidade, e usá-los para ajudar a reconstruir a vida antiga.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, a utilização de fontes históricas é amparada, já que a comunicação entre os homens não restringe apenas a comunição oral e escrita ultrapassa a gestual e musical, sendo assim a utilização de “métodos de pesquisa e de produção de textos de conteúdo histórico, aprendendo a ler diferentes registros escritos, iconográficos, sonoros” (PCN, p.41).
Esclarecendo que é fundamental o professor ter domínio sobre os materiais a serem utilizados como fontes potenciais para reflexão e aquisição do saber histórico escolar, permitindo que o estudante observe atentamente ao seu redor e estabeleça relações e críticas, como também diferenciar as relações dos sujeitos históricos no espaço e no tempo e assim relativizar sua própria atuação no espaço e no tempo.
Para que seja possível o comprimento das diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais, fazer uso de fontes históricas na sala de aula é imprescindível que o professor seja o mediador entre os estudantes com os documentos, direcionando os discentes as linhas que permitem ao pesquisador dialogar com as fontes. E sobre essa proposta, elucidar os PCN.

Os procedimentos de pesquisa devem ser ensinados pelo professor de História á medida que favoreçam, de modo ou de outro, uma ampliação do conhecimento da capacidade das crianças: trocas de informações, socialização de ideias [...]domínios linguísticos, escritos, orais,iconográficos, cartográficos e pictóricos.(PCN,1997,p.77)

Assim, torna-se responsabilidade do professor de História o pleno domínio dos desígnios teórico-metodológicos do conhecimento histórico. É de compromisso do mesmo apresenta aos estudantes as fundamentações básicas para que a turma tenha possibilidades de fazer perguntas consistentes, levando em consideração o conjunto de conhecimento que trazem consigo e que interferem direta ou indiretamente na leitura das fontes históricas.
A orientação dos PCNs possibilita o trabalho do professor com fonte histórica, dinamizando o processo de aprendizagem, democratizando o saber, estimulando a criatividade dos estudantes e mais ainda deixando o propicio para o conforto de diferentes interpretações e visões, além de possibilitar a desmitificando de algumas ideologias. Deixando claro que não é repassada para os estudantes a responsabilidade de produção de um conhecimento histórico cientifico, requerendo uma postura e produção que se aproxime daquelas que são produzidas por historiadores renomados. É nessa direção que o trabalho com fontes na sala de aula contribuirá democratizar o conhecimento, pois não jogar na mão dos discentes o dever de construir o próprio saber sozinho.

Relato da ação

O uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula não é uma realidade no âmbito das escolas de nosso país, então buscamos empreender essa metodologia no ensino de estudantes da escola pública, e no fazer da disciplina de História, trabalhando com a Bíblia como fonte histórica no contexto da sala de aula como também mais além da sala. Continuamente tendo como propósito motivar os discentes para uma melhor compreensão e apropriação do conhecimento.
Conseguimos a nossa primeira experiência de trabalho com a Bíblia como fonte histórica ligada ao ensino de História na primeira semana de maio, na Escola Estadual Professor José Fernandes Machado, situado no bairro de Ponta Negra, Natal/RN. De inicio, nosso objetivo com a aplicação dessa ideia na escola promovida pelo PIBID juntamente com a escola campo de atuação, foi o de verificar se os discentes conceberiam a Bíblia como fonte histórica e saber das possibilidades de utilização deste como recurso didático.
Teve-se aulas realizada sobre a leitura crítica das fontes históricas sobre o Império Persa, fazendo uma discussão metodológica inicial da mitologia (mito) versus História, para que o apreendente tenha essa noção essencial da diferenciação entre as diferentes concepções e, o uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula.
Explicamos a origem dos Persas e como ocorreu a sua expansão que culminou em um grande Império, deixando um grande legado á disseminação do conhecimento, que ocorreu pela rápida difusão de costumes e experiências. Evidenciamos o sistema de dominação dos persas, do sistema geralmente usado por demais povos, apresentando como característica principal uma tolerância religiosa, neste caso usamos trechos bíblicos que evidência essa tolerância, em que Ciro o Grande decreta a libertação dos cativos da Babilônia, no livro de Esdras que diz o seguinte, “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para cumprir a palavra de Iahweh pronunciada por Jeremias, Iahweh suscitou o espírito de Ciro, rei da Pérsia, que mandou proclamar de viva voz e por escrito, em todo o seu reino, o seguinte” (Esdras, 1:1), como também comprovado pela Arqueologia no Cilindro de Ciro.
“(O Imperador Ciro da Pérsia é o escolhido do Deus Yhwh) Isaías 45:1 Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis; para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão; (...)”.




Imagem 1: Cilindro de Ciro Rei da Pérsia 539-530 a.e.c (Fonte: Bíblianua.vilabol.oul.com.br, 2012).


O Cilindro de Ciro foi considerado pela Organização das Nações Unidas como sendo a primeira Declaração dos direitos humanos, ao permitir que os povos exilados na Babilônia regressassem ás suas terras de origem. O Cilindro é de barro, que registra um decreto importante do rei Ciro da Pérsia, escolhido por Yhwh para dominar todas as nações e também responsável pela libertação dos judeus do cativeiro da Babilônia, iniciando uma série de acontecimentos que culminaram com a reconstrução de Jerusalém.
Na Bíblia nos livros de Esdras 1 e Neemias 3, no primeiro ano do reinado de Ciro, rei dos persas,setenta anos depois que as tribos de Judá e de Benjamin foram levadas escravas para a Babilônia, Yhwh teve compaixão pelo sofrimento deles, realizou o que havia predito ao profeta Jeremias, antes mesmo da ruína de Jerusalém.
Flávio Josefo, em História dos Hebreus: de Abraão á queda de Jerusalém, obra completa traduzida por Vicente Pedroso, sendo a oitava edição. Mostra no capitulo um livro décimo a atuação de Ciro, rei da Pérsia, permite que os judeus voltem o seu país e reconstruam o templo. Nesse sentido, segundo o mesmo autor (2004, p. 499)

 Que passados setenta anos de escravidão, sob o Nabucodonosor e seus descendentes, voltaríamos ao mesmo país, reconstruiremos o templo e desfrutaríamos a nossa primeira felicidade.

 Assim, pôs no coração de Ciro e o mesmo escreveu uma carta para ser enviada a toda Ásia. “Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, da terra e dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém”. Para confirmar atuação de Ciro na tomada da Babilônia e na fundação do império persa.
Nesse sentido, Mazar (2003, p.518)

Os níveis de destruição causados pelas invasões babilônias foram detectados em muitos sítios da Filístia ( Asdod, Acaron, Tamna) e em Judá. Entretanto, existem evidências de continuação da vida em diversos sítios judaítas, especialmente ao norte de Jerusalém.

O trecho relata os sítios detectados pela arqueologia que comprovam os níveis de destruição causados pelas invasões babilônicas em Judá. No decorrer do texto, percebemos o lugar primordial da arqueologia e da Bíblia para as descobertas destes tais lugares, fora de Judá o período babilônico quase não é conhecido. Porém, em Meguido Estrato II, uma enorme cidadela fornece dados importantes para a identificação dos seus construtores que se tornou objeto de discussão entre os arqueólogos, pois, alguns acreditam que foi arquitetada por Josias; outros atinam que era Babilônia.



Conclusão

Tendo em vista o que foi apresentado, é possível constituir levando em conta o contexto e os propósitos em que foram desenvolvidos o conceito de fonte histórica trazido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, que tem a finalidade de possibilitar ao professor dinamiza o processo de ensino-aprendizagem, democratiza o saber, estimula a criticidade do jovem na sala de aula como também fora da mesma.
É nesse sentido, que o trabalho com a leitura crítica de fontes históricas sobre o império persa, contribuiu para dinamizar aula, democratizar o conhecimento, e consequentemente o desenvolvimento de práticas que desperte nos discentes atitudes de questionamentos e diálogos, ampliando o olhar e ultrapassando as barreiras da surperfice, como também favorece a troca de saber entre o professor (a) e o discente.
Por fim, cabe lembrar que propôs novas metodologias converge romper com as antigas metodologias, que não é uma tarefa fácil na medida em que toda nova proposta é, geralmente, encarada como uma exceção feita por profissionais com pouca experiência na área. Assim, mostramos a importância da Arqueologia como essencial para compreendemos, o uso da Bíblia como fonte histórica na sala de aula já que, a Arqueologia é o estudo do antigo, o conhecimento neste campo se obtém pela observação e estudo sistemáticos, e os fatos descobertos são avaliados e classificados num conjunto organizado de informações.
 Concluímos que os apreendentes tinham certa dificuldade de conceber a Bíblia com fonte histórica, pelo fato, de ser um livro religioso ou mitológico. Mais, os resultados obtidos são iniciativas para damos continuidade na elaboração de aulas interdisciplinares. A aula se desenvolveu de uma maneira clara e objetiva, sem excesso de informações, objetivando atingir os objetivos propostos no plano de aula.





Apêndice:



Escola Estadual José Fernandes Machado.
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID
Coordenadora: Profª Dr. ª Fátima Martins.
Subcoordenador: Profº. Ronaldo
SÉRIE: 1º ano do ensino médio.
DATA: 07/05/2012
Discentes/bolsistas: Anaxágoras Lopes, Luciere Silva
Tema: A leitura crítica de Fontes  Históricas sobre o Império Persa.

PLANO DE AULA

OBJETIVOS

1-OBJETIVO GERAL:
Compreender através de fontes arqueológicas, de trechos bíblicos a origem e composição do povo Persa.
2-OBJETIVO ESPECÍFICO:
v  Explicar as diferenças entre a História e a mitologia, para o apreendente através das fontes aumente sua autonomia critica diante de diversificados gêneros textuais, visuais históricos.
v  Explicar quem foram os Persas e sua política para expansão do Império.
v   Mostra exemplos da Bíblia que é comprovado pela Arqueologia, evidenciando a importância do uso da Bíblia como fonte histórica.
v  Diferenciar o sistema de dominação dos persas, do sistema geralmente usado por outros povos;

2. METODOLOGIA:
 Como procedimento metodológico nos valeremos de uma aula expositiva, utilizando o projetor de multimídia para que os alunos acompanhem passo a passo a aula. Acaso haja imprevisto apenas, ocorrerá à exposição oral.


3. RECURSOS METODOLÓGICOS
Lousa, giz, mapa do mundo, data show, texto escrito e imagens.


4. PROCESSO (S) DE AVALIAÇÃO:
Avaliação continua.

Ruínas de Persépolis
Imagem 2: Ruínas de Persépolis (Fonte: destylou-historia.blogspot.com,2012)

Descobertas arqueológicas relacionados com a Bíblia
      Queda de Babilônia para os medos e os persas (Dn 5:30-31), como registrado no Cilindro de Ciro.
      Libertação dos cativos da Babilônia por Ciro o Grande (Ed 1:1-4; 6:3-4), como registrado no Cilindro de Ciro.
      Existem outras três tumbas esculpidas no rochedo próximo à capital persa Persépolis, no Irã, que se acredita serem dos reis persas Xerxes (485-465 a.C.), Artaxerxes I (465-424 A.C.) e Dario II (423-405 A.C.).
      Só na inscrição de Dario identificou. Xerxes é o Assuero do livro de Ester, o rei que Ester se desposou.
      Queda de Jerusalém por Nabucodonosor, rei da Babilônia (2 Re 24: 10-14), como registrado nas crônicas Babilônicas.

REFERÊNCIAS:

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental: Parâmetros Curriculares nacionais: História. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
BERSELI, Josué. História, Arqueologia e cronologia do Êxodo: Historiografia e problematizações. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2008.
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[1] Graduanda em História (licenciatura) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: lucierecavalcante@yahoo.com.br
Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) pela CAPES, subprojeto-História.

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