Os grêmios e a ação estudantil
Sendo a escola o espaço aglutinador da juventude, é ela em si o
espaço central e privilegiado para a formação de lideranças e promoção
de cultura cívica. Emerge daí a importância do processo de formação e
consolidação dos grêmios estudantis.
Por definição socialmente
comungada e legalmente reconhecida, o grêmio é o espaço de representação
dos alunos na escola, configurando-se como instrumento destes para a
materialização de seus desejos e expressão de suas reivindicações.
Aprender com a prática
A experiência democrática inerente ao processo de formação e
consolidação dos grêmios é também um importante processo pedagógico.
Afinal, os alunos vivenciam no período de eleição a construção de uma
chapa, constroem coletivamente planos de governo, pautados nos anseios
deles próprios e dos demais estudantes; participam do pleito eleitoral
e, posteriormente, gerenciam o grêmio. Ou, caso não sejam os vencedores
ou sejam alunos que não participaram da disputa eleitoral, colaboram com
os eleitos, cobrando-os ou construindo com eles a gestão estudantil.
Claramente, as vantagens extraídas de uma experiência democrática
representativa na escola são muitas, ainda mais se os frutos a serem
colhidos forem considerados também no longo prazo. Em primeiro lugar,
porque os jovens, logo no momento em que começam a consolidar sua
identidade como cidadãos, iniciam sua vida política como sujeitos de um
processo coletivo de escolha e tomada de decisão. Em alguns casos ainda
têm a incumbência de gerir uma associação representativa. Em segundo
lugar, a participação no grêmio estudantil é um intenso processo
pedagógico de negociação, questionamento e empreendedorismo, elementos
centrais no amadurecimento individual e profissional dos estudantes,
queiram eles optar pela carreira pública ou não.
Um outro aspecto
importante é o fato da participação no grêmio incitar os jovens a
exercerem e dominarem atividades formais, geralmente administrativas e
notadamente imprescindíveis ao encaminhamento bem-sucedido de seus
projetos de vida.
Elaborar o estatuto e o regimento interno,
fazer as atas das reuniões, controlar e preencher o livro-caixa,
responder cartas, buscar parceiros e financiadores, escrever jornais,
convocar e organizar assembléias, fazer balanços, negociar com a direção
da escola, escrever e viabilizar projetos e empreendimentos diversos,
debater publicamente etc. Tudo isso desenvolve inúmeros conhecimentos e
capacidades essenciais na vida, tanto juvenil como adulta, permitindo ao
estudante um desenho plausível de um futuro desejado e exeqüível, em
que o sonho está pautado numa sólida análise da realidade que ele terá
que enfrentar.
Ação política
Como o grêmio estudantil é uma
instituição política, representativa e democrática dentro da escola,
sua atuação tende a tornar a unidade escolar um espaço público amplo e
difusor de politização, inclusive à comunidade do entorno. Isso ocorre
porque a ação política, por definição, é preeminente e a partir do
momento em que ela é disparada, logo uma outra a sucede, criando um
caminho sem volta de onde emergem conflitos, propostas, discursos, mas
essencialmente ngociação e experiência coletiva.
Como uma ação
política gera outra, necessariamente, no momento em que os jovens optam
pela participação nos grêmios, naturalmente iniciam suas atividades
reivindicando por melhorias no espaço físico da escola etc. Mas com o
decorrer do tempo, logo passam a discutir temas de grande abrangência
pública como projeto político-pedagógico, programas de cultura e lazer
às juventudes presentes na unidade escolar, políticas de emprego,
política educacional (com especial atenção ao acesso à universidade),
violência, entre outros. Depois de acesa e alimentada, a chama da
participação domina o espírito dos estudantes e os encoraja ao exercício
da cidadania. Com o tempo, eles ocupam todas as instituições da escola
(Conselho Escolar e Associação de Pais e Mestres), chegando muitas vezes
a liderá-las, além de atuar em outras organizações externas ao ambiente
escolar, superando em alguns casos as fronteiras comunitárias.
Infelizmente, não são todos os grêmios que alcançam plenamente esses
resultados. Em parte isso ocorre pelos próprios limites da cidadania e
da cultura cívica democrática no Brasil. Mesmo sendo a escola algo nada
novo, trabalhar em seu território, aproveitar as suas potencialidades e
superar seus obstáculos, a torna um espaço propício para o semear de
perspectivas e colheita de soluções.
Daniel Tojeira Cara
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