Aula correspondente ao dia 27/10/2020
1 - A atividade para ser realizada com o texto abaixo, consiste em destacar três aspectos dos oito listados, e descrever o que isso colabora para despertar o seu interesse para estudar sobre a Roma Antiga.
2 - A atividade com os vídeos, abaixo do texto, é elaborar um texto curto sobre cada um, entre 5 e 10 linhas, contendo as suas impressões e descobertas apresentados nos dois vídeos.
Fonte: https://brasil.elpais.com/estilo/2020-08-30/oito-coisas-que-nos-parecem-muito-modernas-mas-que-os-romanos-ja-faziam.html?ssm=FB_CC&fbclid=IwAR2qmYmQ0CSLu-2rQBr6ORKqh2LrGM_L_cERGKivg6_tp7G8N0YVO8QxNuE
Romanos já pintavam
grafites, compravam comida de rua e difundiam ’fake news’...
JAIME RUBIO HANCOCK - 31 AGO 2020 - 16:17 BRT
Nós, os ocidentais, nos consideramos herdeiros, pelo menos
em parte, dos romanos antigos. Fundaram muitas de nossas cidades, nossa língua
vem do latim e inclusive estradas e rodovias, em muitos países europeus, foram
construídas sobre antigas estradas romanas. Embora às vezes também nos
sintamos, felizmente, distantes de muitos aspectos de sua cultura, como as
guerras de conquista e as lutas de gladiadores. Como lembra ao EL PAÍS o
historiador Néstor F. Marqués, quando examinamos os conceitos que existem por
trás de algumas dessas manifestações culturais vemos que não é tão difícil
encontrar paralelos entre muitas de suas atitudes e as nossas.
Reunimos algumas dessas atividades e costumes que podem
parecer mais ou menos modernos, mas que já eram feitos, à sua maneira, pelos
romanos da República e do Império. Com uma advertência do próprio historiador
ouvido pela reportagem: não se deve cair no “presentismo”. Em outras palavras,
uma coisa é comparar e estabelecer analogias para nos ajudar a entender melhor
o passado (e nosso presente) e outra, bem diferente, é “introduzir nossos
vieses” para justificar crenças e opiniões que nem sempre têm muito a ver com a
história.
1. Pintar grafites. Deixar mensagens nas paredes “deve ter
sido bastante comum nas grandes cidades”, nos contou Ana Mayorgas, professora
do departamento de História Antiga da Universidade Complutense de Madri, com
quem conversamos para um artigo sobre os grafites de Pompeia. Esta cidade tinha
entre 10.000 e 20.000 habitantes quando foi sepultada pela erupção do Vesúvio
no ano 79, e mais de 11.000 grafites estão preservados em suas paredes. Na
verdade, o fato de essas inscrições serem tão frequentes, explicou Mayorgas, é
um dos indicadores de que “amplas camadas da população tinham a capacidade de
ler pelo menos algumas frases”.
E o que os romanos escreviam? Textos muito curtos e mensagens
muito diretas. Além dos “Satura esteve aqui” e similares, há mensagens de cunho
amoroso e sexual, anúncios de vendedores de barracas e lojas, bem como slogans
eleitorais. Outro grupo importante é o da reprodução de versos conhecidos,
especialmente da Eneida. Também havia algo bem ao estilo Tripadvisor clássico
(“Pagarás pelos teus truques, estalajadeiro. Você nos vende água e fica com o
bom vinho para você”). E Néstor F. Marqués aponta uma que o faz lembrar o
Twitter: “Me admiro, parede, que você não tenha desabado, tendo que aguentar
tantas bobagens escritas sobre você”.
2. Difundir notícias falsas. O historiador explica que
algumas dessas inscrições nas paredes eram comparáveis aos boatos que vemos no
mural do Facebook. Por exemplo, um desses grafites afirmava que “o sindicato
dos ladrões e das prostitutas” apoiava um candidato às eleições locais. Talvez,
como nos boatos atuais, muita gente não acreditasse, mas é claro que a
difamação (e a zombaria) não são uma arma política apenas de nossa história
recente.
Marqués é precisamente o autor do livro Fake News de la
Antigua Roma e explica por telefone outros casos de destaque de campanhas
difamatórias. Por exemplo, muitas das histórias que chegaram até nós sobre os
imperadores, como os excessos de Calígula, Nero e Domiciano. Em geral, os
imperadores assassinados eram demonizados após sua morte. Em vez disso, como
Mary Beard escreve em SPQR, aqueles que conseguiam morrer na cama e organizar
sua sucessão eram lembrados como generosos e devotados a Roma.
O professor lembra que a história é escrita pelos
vencedores. Tanto Suetônio, autor de Vidas dos Doze Césares, quanto Tácito,
autor dos Anais, trabalharam para o imperador Trajano. E que melhor maneira de
fazer este imperador parecer bom do que falar mal dos anteriores? Por exemplo,
Marqués conta que Domiciano, recordado como um tirano cruel, foi um imperador
“muito eficiente, bom administrador, perfeccionista e justo”. A título de
exemplo, as moedas de prata e ouro de seu reinado tinham 99% de pureza, o que
significava que as contas estavam saneadas.
3. Organizar campanhas eleitorais. Já mencionamos que havia
eleições: os romanos podiam se dedicar à carreira política e judiciária, com
cargos sujeitos a eleições. Principalmente durante a República, embora durante
o Império também houvesse votações anuais para cargos locais. Claro, não havia
salário, razão pela qual só privilegiados podiam se dedicar a essa carreira.
De fato, custavam dinheiro. Marqués explica que os
candidatos pagavam obras públicas, como a nova pavimentação de uma praça, por
exemplo. Candidatar-se a uma eleição para cargos como pretor ou cônsul incluía
um nível de generosidade que às vezes “nem sempre era fácil de distinguir do
suborno”, escreve Beard, acrescentando que os políticos romanos contavam
recuperar o que tinham investido (e algo mais) durante o exercício do cargo.
Algo semelhante a comícios também era realizado: as
contiones, que eram organizadas antes das assembleias e nas quais os candidatos
tentavam atrair o voto dos cidadãos com discursos e debates (Cícero fez seu
segundo e quarto discurso contra Catilina em contiones, explica Beard em seu
livro). Havia até “colagem de cartazes”, diz Marqués. Durante a campanha, os
candidatos mandavam pintar slogans a seu favor nas paredes da cidade. Esses
trabalhadores (ou seguidores) saíam à noite em grupos com diferentes tarefas:
um deles caiava a parede, outro desenhava as letras e um terceiro segurava uma
lamparina a óleo.
4. Admirar atletas famosos. Os gladiadores e,
principalmente, os cocheiros de bigas e quadrigas (aqueles veículos antigos
puxados por cavalos) eram admirados pelos fãs de jogos e corridas. O Circo
Máximo, onde aconteciam corridas de quadrigas, podia acomodar cerca de 250.000
espectadores, em uma cidade de um milhão de habitantes no século I. O
historiador especialista em Roma Antiga, que compara essas corridas à Fórmula
1, dá como exemplo Caio Apuleio Diocles, cocheiro lusitano cuja carreira
esportiva foi gravada numa lápide erguida por seus admiradores. Diocles se
aposentou tendo acumulado uma fortuna que, segundo algumas estimativas, o
tornaria o atleta mais bem pago da história.
Juvenal (o mesmo que criticou o “pão e circo”) acreditava
que os romanos admiravam demais os gladiadores. Um pouco como quando alguém se
queixa da atenção que damos a Cristiano Ronaldo e Messi. Escreve com desprezo
em uma de suas Sátiras sobre Eppia, a mulher de um senador que teve um caso com
um gladiador chamado Sergio. Este lutador tinha um braço ferido e o rosto cheio
de cicatrizes: “Mas era um gladiador! (...) Por isso o preferia aos irmãos e ao
marido: é da espada que elas gostam”. Marqués acrescenta que os gladiadores
eram vistos como pessoas diferentes e incríveis. Havia até lendas urbanas, como
a de que seu sangue era afrodisíaco.
5. Comportar-se como esnobe em relação a vinhos. Como
explica Mark Forsyth em Uma Breve História da Bebedeira, os romanos foram os
primeiros a se preocupar com a origem, a variedade e o ano de colheita dos
vinhos. Marqués cita, por exemplo, um cartaz publicitário de uma taberna de
Herculano no qual aparecem várias jarras, cada uma com um preço diferente de
acordo com sua qualidade e idade.
Um dos mais bem avaliados era o do monte Falerno, perto da
atual Nápoles, um vinho branco que era envelhecido durante dez anos. E a
colheita mais famosa foi a de 121 a.C., o falerno opimiano, que leva o nome de
Opímio, o cônsul da época (as colheitas eram designadas com o nome do cônsul,
que mudava a cada ano). Supõe-se que tenha sido bebido por Júlio César (cerca
de 60 anos mais tarde) e Calígula (160 anos depois). O poeta Marcial qualificou
esse vinho de “imortal”, mas dificilmente seria algo tragável depois de tantas
décadas. Na verdade, como Forsyth também conta, muitos dos antigos lacres de
vinho eram provavelmente falsos.
6. Reclamar do senhorio. Os edifícios de apartamentos
(insulae, ou ilhas) eram muito comuns em Roma. Como Mary Beard escreve em SPQR,
eram “oportunidades de investimento atraentes para seus proprietários”. Como o
próprio Cícero, que em uma carta comentou que um de seus edifícios estava a
ponto de desabar e “não só os inquilinos, mas também os ratos” tinham ido
embora. Segundo Beard, ele não escreveu isso envergonhado, mas com escárnio e
superioridade.
Nesses edifícios, as moradias menos confortáveis e espaçosas
ficavam nos andares superiores, sem espaço para cozinhar ou lavar. E, o que é
pior, com uma rota de fuga muito difícil em caso de incêndio, algo frequente.
Em outra de suas sátiras Juvenal escreve que a cidade “em sua maior parte se
apoia em uma frágil viga, porque com ela o senhorio evita a queda e, uma vez
que cobriu a abertura de uma velha fenda, nos aconselha a dormir tranquilos
antes do desabamento iminente”. Embora as leis de moradia tenham mudado muito
desde então, alguns lerão estas linhas escritas há mais de 1900 anos e se
lembrarão do último remendo feito pelo senhorio: “Está como novo. Deixe um
balde aqui para a água, não fale muito alto e melhor não abrir a janela à
tarde. Mas está como novo”.
7. Comprar comida de rua. Os romanos que tinham boa situação
podiam cozinhar e comer em casa; para o resto, como vimos na seção anterior,
era mais difícil: no caso de querer algo que não fosse equivalente a um
sanduíche, tinha de ir a bares e tabernas.
Além de sentar nesses estabelecimentos, em cidades como
Pompeia e Herculano ainda estão de pé os termopólios, estabelecimentos onde se
podia comprar comida pronta para viagem. Tinham um balcão com buracos nos quais
eram colocados recipientes de barro com comida quente ou fria. Marqués lembra
que ao meio-dia era habitual comer pouco e rapidamente na rua se, por exemplo,
não havia tempo de voltar para casa. A refeição importante era o jantar (às
cinco ou seis da tarde, ou às sete se fosse um banquete). Quem podia,
certamente tirava um meridiatum, ou seja, uma sesta.
8. Ler um jornal. Um dos pequenos prazeres da vida moderna é
sair para passear (agora, com máscara), comprar o jornal e lê-lo em um terraço,
respeitando a distância de segurança. Até o século XVIII não havia jornais, mas
os romanos tinham algo semelhante à sua disposição. Podiam se aproximar do
fórum, onde todos os dias uma cópia da Acta diurna populi romani (os fatos
diários do povo de Roma) era pendurada.
Na Acta, que alguns mandavam copiar à mão para enviar e
distribuir em todas as províncias, havia propostas de leis, fragmentos de
discursos e resumos do que aconteceu no Senado. A decisão de pendurar esse
diário foi de Júlio César. Ele não o fez para aproximar as decisões políticas
do povo. Como explica Tom Standage em Writing on the Wall, seu objetivo era
mostrar como os senadores se opunham às suas políticas populistas, para ter o
apoio dos cidadãos e cimentar suas ambições de se consolidar como ditador.
Depois de alguns anos, a Acta começou a incluir informações
além da política, como funerais e divórcios, além de fatos curiosos que Plínio,
o Velho, compilaria em sua História Natural. Por exemplo, uma história que hoje
continua sendo publicada de vez em quando, embora com outros protagonistas, é
claro: um cachorro se recusou a abandonar o cadáver de seu dono, chegando até a
tentar resgatá-lo quando foi lançado no rio Tibre.
Além da Acta, Marqués lembra o papel dos
porta-vozes e pregoeiros (praeco). Eram funcionários do Estado que informavam
no fórum as notícias do dia e que também podiam anunciar as horas, atuando como
relógios humanos.
COMO ROMA ANTIGA É COBRADA NO ENEM?
Por que Estudar Roma Antiga?